terça-feira, 30 de outubro de 2012

Pescadores fogem dos estereótipos e revelam outra face da atividade da pesca

O presidente da Colônia de Pesca do Rio Vermelho traça o perfil desta região da cidade



Por Artur Queiroz

Contrariando o que se passa pela cabeça de muitas pessoas, vida de pescador não é tão tranquila quanto as canções de Dorival Caymmi e os romances de Jorge Amado. Os pescadores todos os dias se aventuram pelas águas de um mar que nem sempre está disposto a oferecer a melhor condição de trabalho a estes homens que tem na pesca do seu sustento de vida.

Quem exerce essa atividade consegue uma renda mensal de um salário mínimo, mas a baixa renda não é a principal queixa destes homens. Segundo Marcos Souza, presidente da Colônia de Pesca do Rio Vermelho e também conhecido como Branco, o que torna a vida dos pescadores mais difícil é o fato de eles serem invisíveis para o poder público.

“O pescador está precisando de equipamento e de especialização para praticar a atividade porque o peixe a cada dia está mais distante. Os barcos aqui são pequenos... Um barco grande tem no máximo 10m e hoje para uma boa pesca a gente precisa, não só de embarcações com maior qualidade, mas também de se capacitar os pescadores com novas modalidades e novas técnicas para capturar estas espécies (de peixes) que ainda existem no nosso litoral, mas que estão agora muito mais longe.”, afirma Marcos, que aponta quais são as principais necessidades destes homens: “O ideal seria que os setores governamentais encaminhassem políticas públicas para capacitar estes trabalhadores e colocassem eles em embarcações que são necessárias hoje em dia para que este pescado seja capturado e garanta o nosso sustento de vida.”.

Marcos reclama da falta de assistência até na realização da festa de Iemanjá: “A festa de Iemanjá caminha no sentido inversamente proporcional de seu crescimento. A cada ano a festa cresce mais, mas ao mesmo tempo nós temos cada vez menos apoio da prefeitura municipal e da secretaria de cultura ou de turismo do município. É uma festa quase que totalmente independente.”.

Apesar das reclamações com relação à festa, Marcos conta que a devoção à orixá também garante aos pescadores uma renda extra no final do mês: “Como diariamente devotos da cidade ou turistas aparecem aqui querendo que a gente leve oferendas ao mar, isso acaba também ajudando a gente a garantir um dinheirinho a mais, principalmente em fevereiro. Coisa de R$ 20 ou R$ 50”.

SINCRETISMO - A colônia do Rio Vermelho é a mais atípica da cidade porque além do desenvolvimento da atividade da pesca e da organização da categoria de trabalhadores, há também a Casa de Iemanjá, que foi uma realização dos próprios pescadores negros descendentes de escravos.

Por causa da dificuldade que havia em se cultuar entidades do candomblé por causa da opressão exercida pelo estado e pela igreja, os negros através do sincretismo passaram a associar a imagem de santos da igreja católica com a dos deuses do candomblé.

Historiadores afirmam que no ano de 1924 o Rio Vermelho estava passando por uma escassez de peixes. Como esta falta afetava pescadores, peixeiros e fregueses, surgiu então a ideia de se oferecer presentes à mãe d’água para que de alguma forma ela pudesse retribuir. A estratégia deu certo e a partir deste momento surgiu na cidade a famosa festa de Iemanjá, celebrada no dia 2 de fevereiro.

Segundo Marcos, “O sincretismo até hoje é muito forte no Rio Vermelho. Quem visita a Casa de Iemanjá também assiste missa na Igreja de Nossa Senhora de Santana, aqui ao lado.”, mas que ao mesmo tempo devotos de outras religiões também são praticantes, ainda que em sigilo, do sincretismo: “Eu, que já trabalho aqui há muitos anos já cansei de receber evangélicos querendo levar suas oferendas. Eles me pedem pelo amor de Cristo, de Jeová, que eu não fale nada para ninguém. Normalmente eles aparecem em horários mais calmos, para não correrem o risco de serem vistos.”.

ESTEREÓTIPO – Um dos pontos que Marcos faz questão de destacar é o fato de as músicas da Dorival Caymmi e os romances de Jorge Amado terem criado no imaginário das pessoas uma imagem dos pescadores que é muito diferente da realidade. As obras destes dois artistas baianos mostram o pescador como uma figura que acorda de manhã cedo para sair com a jangada e que na volta traz sempre muitos peixes. Após o trabalho a única atividade, ou melhor, a falta dela faz com que esse homem deite em sua rede para descansar e poder mais tarde sair para beber e galantear as mulheres da região.

“Artisticamente isso tudo é muito bonito, mas deixou nas pessoas a impressão de que o pescador é aquela pessoa que vive com as maiores facilidades, como se estivesse sempre flauteando. Na verdade a gente sabe que a atividade da pesca é completamente diferente desse contexto.”, afirma Marcos que faz questão pontuar as dificuldades enfrentadas pelos pescadores: “A atividade profissional da pesca é desgastante e perigosa. Ele vai enfrentar mares que nem sempre estão em condições favoráveis. Só não vai quando não tem jeito porque o pescador é como uma aranha, ele vive daquilo que ele tece.”.

TRADIÇÃO - Os primeiros registros da colônia de pesca do Rio Vermelho foram feitos em 1860, mas a constituição formal da região data de 20 de março de 1962. A área territorial da colônia abrange núcleos em diversos pontos da cidade. A Z1, como também é conhecida a do Rio Vermelho, começa na rampa do Mercado Modelo e abrange uma área que vai até Boca do Rio.

Segundo Marcos Souza, a nomenclatura das colônias surgiu através de um almirante brasileiro que viu na mão de obra pesqueira, um reforço para a defesa da costa das cidades litorâneas do estado em caso de guerra. Como forma de recrutar estes homens que até então viviam somente da pesca, toda a orla da Bahia foi mapeada e cada região passou a ser chamada de Zona, no caso do Rio Vermelho, Zona 1 ou Z1. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Greve! Greve?

Teófilo Henrique

Com o fim da greve das instituições federais de ensino, cerca de 62 mil estudantes voltaram às aulas no dia 17 de setembro. Depois de três meses sem aula, os estudantes retornam para concluir o primeiro semestre de 2012 e apenas em abril de 2013 finalizam o segundo semestre deste ano. Com o atraso no calendário e esse período sem atividades, como fica a vida dos alunos? O que eles fizeram durante a greve e o que vão fazer num período em que deveriam estar de férias, mas estarão em sala de aula?

Concordando ou discordando da greve, é notório que a maioria dos estudantes não gostaram de saber que vão passar o Verão em sala de aula, como afirma o estudante de jornalismo Lucas Leal: “os alunos vão ter que estudar todo o Verão, época mais desconfortável da cidade faz um calor muito grande”. 

O estudante ressalta que, com o atraso das aulas, sua colação de grau, que já está sendo paga, ainda não tem previsão, pois a reitoria não informa as datas disponíveis, devido à alteração no calendário. Para Lucas, a greve teve alguns pontos positivos. Ele teve mais tempo para fazer seu trabalho de conclusão de curso, além de aproveitar melhor o estágio no jornal A Tarde. “Na prática, sou quase profissional, mas não regulamentado pelo diploma”, disse.

Para a estudante de psicologia Júlia Freitas, o tempo da greve foi bem produtivo. Mesmo achando ruim, ela aproveitou o histórico das greves longas anteriores para viajar pois a previsão era mesmo de meses sem estudo. “Eu soube reinventar diante da situação, mas acho que preferia que ela não tivesse acontecido. Eu já tinha planos de passar um mês nos Estados Unidos treinando meu inglês, e pretendia fazer isso em fevereiro de 2013”, afirmou.

A estudante diz que teve sorte em viajar para Nova Iorque durante a greve . “A vantagem disso é que, ao invés de pegar Nova Iorque no inverno, peguei um mês de Verão, o que foi muito mais proveitoso para conhecer a cidade”. Para Júlia, um dos pontos negativos foi cancelar uma viagem com a família, que estava programada para dezembro, e também em atrasar o cronograma de seu curso e por consequência, sua formatura.

Mesmo com prós e contras, os estudantes concordam que os professores têm o direito de reivindicar melhorias salariais e estruturais das instituições. “A luta é válida, sim”, diz Lucas Leal. Já Júlia é mais incisiva: “Infelizmente, nossos governantes dão tão pouco valor à educação que nem com três meses de greve, eles atenderam aos pedidos de plano de carreira dos professores. Greve é péssimo para todos, mas acho que, de outra forma, conseguiriam ainda menos.”


A cara metade pode estar no site ao lado

 
 



Rangel Querino


Sites de relacionamento se popularizam e cada vez mais seguem nicho de mercado

Está solteiro e busca por um relacionamento sério, com talvez a pessoa dos seus sonhos? Bom, existe inúmeras formas de se iniciar um relacionamento. Pode-se optar por uma procura à moda antiga, ao frequentar lugares em que a pessoa amada pode estar. Até mesmo investir no acaso e esperar aparecer o príncipe (ou princesa) encantado (a). Ou fazer um cadastro nos inúmeros sites de relacionamento que brotam na internet todos os dias.

Esses sites prometem uma fórmula para que se encontre a tão desejada cara metade. Nas páginas, histórias de romances que começaram no site e que terminaram com final feliz. E tem para todos os gostos. Desde o indiscriminado ParPerfeito onde homens e mulheres preenchem um formulário de gostos, aos segmentados como o “GataxGata” destinado a mulheres LGBT, ou até para os religiosos como o “Divino Amor”, perfeito para os evangélicos que buscam a sua tampa da panela.

“1 em cada 5 relacionamentos começa pela internet. Muitos no ParPerfeito”. Essa é a primeira frase que os visitantes de um dos mais famosos sites de relacionamento da internet encontram assim que entram na página. São mais de 30 milhões de perfis hospedados no site que para ingressar na rede, os usuários tem que responder as suas preferências e afinidades. Ainda existem seções no site com dicas de como se dar bem na paquera em determinadas situações, artigos com temática dos relacionamentos e respostas de perguntas feitas aos usuários do site.

Do mesmo criador do ParPerfeito nasceu o Divino Amor que tem como segmento os praticantes da igreja evangélica. Este é o primeiro produto segmentado para o Brasil. Investimos neste público, pois é um mercado que tem um grande potencial. Entendemos que o nosso produto pode auxiliar bastante a todos os evangélicos na busca por sua cara metade”, explica Claudio Gandelman, presidente do grupo Meetic para América Latina, em entrevista ao portal da internet Unidos da Fé.

No site, os usuários ainda têm a oportunidade de conhecer histórias de casais que deram certo, depois de se conhecerem através da página, em uma seção intitulada Historias de Sucesso. Como a do casal Nadir e José Luiz. “Estava desanimada e desistindo do Divino Amor, quando recebi uma mensagem simples. Era do José Luiz, com o nome, telefone e e-mail”, descreve Nadir em seu depoimento postado no site. Logo após o primeiro encontro, os dois começaram a namorar e dois meses depois veio o pedido de casamento.

Ao contrário dos sites de relacionamento que se encontram normalmente na internet, o Amor Divino não se aplica para aqueles que não estão em busca de uma relação mais sólida. “A diferença já começa no cadastro. Na hora de preencher o perfil, os usuários encontram opções compatíveis ao que acreditam. Alternativas como ‘relacionamento casual’, não estão na lista”, completa Janaína Gonzalez, relações públicas do Divino Amor, em outra entrevista ao portal da internet “Unidos da Fé”.

Educando um aluno com Síndrome de Down no ambiente escolar


Sirleia Souza

Professora Joice Luzia
A Síndrome de Down é causada por uma anomalia genética (trissomia do cromossomo 21). As crianças com Síndrome de Down têm um atraso no desenvolvimento global, que se manifesta também na linguagem. O desenvolvimento da fala, bem como de todo o processo de comunicação, depende de vários fatores orgânicos, ambientais e psicológicos, que estão presentes desde os primeiros dias de vida. A inclusão desses alunos no ambiente escolar tem sido um desafio para vários professores que precisam estar capacitados para tal tarefa já que os portadores dessa síndrome precisam de mais tempo para obter um maior  aprendizado, para saber mais sobre esse assunto entrevistamos a pedagoga e arte educadora Joice Luzia, professora do Colégio a Chave do Tamanho, localizado no Imbuí, que é referência em Salvador da inclusão social de alunos com a Síndrome de Down.

Leia Jorge: Como é a experiência de trabalhar com uma criança  com a Síndrome de Down?

Joice Luzia: Extremamente prazeroso, a criança com Down, melhor, a criança especial como é o correto chamar. É uma criança calma, afetiva, bem humorada, embora tenha alguns prejuízos intelectuais. È enriquecedor.

Leia Jorge: Como se dá a aprendizagem da criança com Down?

Joice Luzia: Normalmente a criança que apresenta Síndrome de Down ao nascer, desde cedo já vem com uma trajetória de estimulação. Daí quando eles entram na educação infantil, começa outro processo de estimulação com a socialização em sala de aula.

Sua adaptação em sala de aula se dá através de estimulo, também da parceria entre pais X escola, a integração com colegas e sua pré-disposição para querer aprender. O Down não necessita de adaptações físicas, normalmente não são cadeirantes.
Leia Jorge: Quais as dificuldades encontradas durante o  aprendizado?

Joice Luzia: A principal dificuldade encontrada é o pré- conceito. Segundo Schwartzman (1999), embora apresentem algumas dificuldades podem ter uma vida normal e realizar atividades diárias da mesma forma que qualquer outra pessoa.

 Leia Jorge: Em que nível se dá a comunicação com essa criança especial?

Joice Luzia: Normalmente, a aquisição da linguagem se faz nos primeiros anos da infância.  É importante saber que a comunicação não se faz só com palavras, mas também com gestos e expressões afetivas.Aos 5 ou 6 anos, a criança já passou por todas as fases da linguagem e se comunica normalmente. Mesmo assim a criança apresenta atrasos na linguagem, sobretudo é expressiva, por causa da hipotonia e da língua protusa. Tais atrasos podem ser bastante minimizados, se a criança passou por um trabalho de estimulação precoce. Mesmo assim, os atrasos na aquisição e uso comunicativo da linguagem perduram e requer continuo trabalho de intervenção com um fonoaudiólogo.

Leia Jorge: Você sente diferença de atenção das outras crianças?

Joice Luzia: Nossos alunos são preparados para lidar com as diferenças individuais, respeitando os limites do outro e respeitando todas as pessoas.A adaptação é natural e rapida e o relacionamento é excelente com os colegas e os professores.

Leia Jorge: Que benefícios tem a  inclusão desta criança na escola regular?

Joice Luzia: Os benefícios são visíveis, o aprendizado do aluno se dá no todo. Você percebe  desde seu equilíbrio estático ao equilíbrio de objetos.  Na sua dicção, as habilidades e percepções, memória visual, sua coordenação viso motora, sua orientação espacial e temporal são trabalhadas e avaliadas constantemente. Também sua atitude em relação ao material, às atividades que realiza sozinho. Transmissão de recados, cuidados com a sua higienização, noções de dinheiro e conhecimento de recursos na comunidade, supermercado, etc.

Leia Jorge: De acordo com a  sua experiência quais as  condições fundamentais para o sucesso da inclusão dessa criança na escola?

Joice Luzia: Não há uma "receita de bolo"... Antes de qualquer coisa temos de entender que fatores internos à estrutura escolar, tais como a organização, o currículo, os métodos e os recursos humanos e materiais da escola são determinantes para a inclusão desses alunos com deficiência. A criança portadora de necessidades especiais, além do direito, tem a necessidade de cursar uma escola normal. A escola, na nossa cultura, é uma representante da sociedade. Portanto, alguém que freqüenta a escola se sente mais reconhecido socialmente do que aquele que não freqüenta.                     

A batalha diária pelo peixe no Rio Vermelho




DIA DE SANTO AQUECE O COMÉRCIO DO PESCADO NO RIO VERMELHO







Por Artur Queiroz

No dia 27 de setembro, uma sexta-feira, é comemorado o dia de São Cosme e Damião, dois santos da Igreja Católica também cultuados por outras doutrinas religiosas. E como todo dia de santo é dia de festa, na Bahia não seria diferente. O bom baiano nestes dias prepara pratos especiais, como caruru ou moqueca, duas iguarias que podem ser servidas ou preparadas com peixe.

No dia destes dois santos padroeiros dos cirurgiões, físicos, farmacêuticos, das faculdades de medicina, dos barbeiros e dos cabeleireiros, não iria se fugir à regra de servir um bom prato acompanhado de um bom peixe. Mas escolher o ideal para compor o prato que vai ser servido nem sempre é tão fácil.

“O que o pessoal procura mais aqui é o Vermelho e o Dourado. Com o verão chegando chega também a época em que dá mais esses dois aqui e aí a gente vende na faixa de uns R$ 15 a R$ 18 o quilo”, afirma Raimundo Souza, que trabalha há 20 anos na Colônia de Pesca do Rio Vermelho como peixeiro, mas que também já foi pesador.

Segundo Raimundo a hora de comprar também é a hora de dar início a uma negociação: “Tem que conversar, tem que saber conversar... A gente não pode baixar demais o preço porque a gente fica no prejuízo, mas se a gente também não conversar também ficamos no prejuízo do mesmo jeito. Então tudo é bem na base da conversa, da negociação com quem vem procurar peixe aqui”.

A proximidade do verão faz com que os pescadores e peixeiros consigam aumentar a sua renda mensal, que fica em torno de um salário mínimo. Isso porque neste período a cidade recebe muitos turistas que visitam as colônias e acabam comprando o peixe. A espécie mais rara na região é o Robalo e o Atum, consequentemente são os mais caros, chegam a custar cerca de R$30 o quilo e são os mais procurados pelos turistas. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A vida de quem trabalha na Fazenda Conceição


Clara Spínola

A comunidade de trabalhadores da Fazenda Conceição vive a 130 quilômetros de Salvador. A melhor forma de chegar nela, é seguir a estrada para Feira de Santana e, na cidade, pegar uma outra estrada no sentido de São Gonçalo dos Campos. A fazenda não é tão grande como se espera de uma propriedade de 250 hectares. A Fazenda Conceição nunca foi autosuficiente, sempre precisou de dinheiro extra, para manter-se funcionando.   Em 2007,o sistema da Fazenda Conceição mudou muito, por causa da morte de um dos donos, Hoje, são propriedades e a outra dona não é muito ativa. Só está presente nas decisões mais importantes, como contratar e dispensar novos funcionários. Atualmente, são quatro trabalhadores, incluindo a funcionária que fica servindo a casa – antes eram cinco.  Paulo Spínola era quem mandava no sistema operacional da fazenda, tomava todas as decisões e mantia tudo sob controle. A partir de junho de 2007, tudo mudou. Em nome de Paulo Spínola, a filha Lúcia Spínola passou a cuidar da fazenda é responsável por manter a fazenda Conceição funcionando.Enquanto Paulo Spinola mandava na fazenda, a principal atividade era a criação de gado de leite, com a venda de litros de leite em latões e plantação de capim. A fazenda tinha uma área maior, o dobro do tamanho atual: 500 hectares. Quando Lúcia Spínola ficou responsável pela fazenda, a primeira coisa que fez foi, vender um terreno perto do lago por medo da invasão de integrantes do grupo organizado Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Foi aí que a fazenda deixou de ter 500 hectares e caiu para 250 hectares.No tempo de Paulo Spinola, eram cinco trabalhadores. José Luiz era casado com Luíza, a funcionária que servia a casa, e juntos tiveram duas filhas. Os quatro viveram por um bom tempo em uma casa no próprio terreno da fazenda. Quando se separaram,  generosamente Paulo Spínola deu uma casa a cada um deles e fora da fazenda, deu um pequeno terreno a eles. As meninas foram morar com a mãe e José Luíz não demorou muito para casar de novo e ter mais dois filhos. Ás duas filhas mais velhas dele, tudo que ele ‘ofereceu’ foi estudos na escola municipal da região e aos filhos mais novos, ele ‘batalha’ para mantê-los em uma escola particular da região. Tinha o jardineiro, conhecido como Tiano, ele também tinha uma casa no terreno da fazenda, mas não durou muito tempo lá, porque Paulo Spínola deu uma casa para ele e a família dele. E tinha mais dois funcionários responsáveis pelo leite.   Por causa da seca, que prejudica muito a produção e criação de gado de leite, Lúcia decidiu, junto com o gerente da fazenda, José Luiz, não mais investir no leite e sim na criação de gado de corte. Passaram a comprar bezerros e criar os animais até ficarem grandes e fortes, saudáveis o suficiente para que na hora da venda, tragam um retorno financeiro alto. Além dos bezerros que compravam, criavam também com o mesmo propósito, aqueles que nasciam na própria fazenda.  Agora, Lúcia Spínola, responsável pela manutenção da fazenda, achou que não tinha necessidade de manter cinco funcionários. José Luiz e Luiza continuaram, Tiano quis demissão, para concentrar-se na reforma da casa dele e ele já não estava mais satisfeito com o trabalho dele ali na fazenda. Um dos funcionários responsáveis pelo leite também foi demitido, uma vez que a fazenda não ia mais se envolver em peso com a venda de leite e o outro funcionário responsável pelo leite, Regis, virou jardineiro também.

O soteropolitano não vive “sobrevive”

Thais Béu

Cercada de belas praias e encantos, não parece que Salvador, foi considerada a pior cidade do Brasil para se viver, de acordo com uma pesquisa feita pela Proteste( Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) .
A capital baiana ficou na pior colocação em habitação e mobilidade, conquistuistando o segundo pior lugar em segurança, saúde e emprego, atrás de Maceió, Natal e João Pessoa, respectivamente.
Apesar da dificuldade de se obter emprego na capital, os baianos não desistem, e como todo bom brasileiro ,criatividade,esforço , fé e talento  são fundamentais para sobreviver, como é  o caso do Sr.Antônio ou Toninho da Combe, como é conhecido na Feira de São Joaquim,que, com 56 anos dos quais, 33 trabalhou como carreteiro de feira. Nesta entrevista Sr.Antônio nos fala sobre sua jornada diária.
Leia Jorge: Que horas o senhor sai para trabalhar?
Antônio Souza: Acordo todo dia as 4 horas da manhã isso a mais de 30 anos pode fazer chuva ou sol sou fiel ao horário e aos clientes,levo frutas e verduras da feira para os estabelecimentos, as 10 horas já fiz todo o meu trabalho.Vou pra casa e durmo a tarde toda por que ninguém é de ferro né?
Leia Jorge: Todos os dias é assim ou os fins de semana é para descansar?
Antônio Souza: Trabalho todo dia,tem descanso não,nem férias,nada.Tem muita conta pra pagar se eu descansar por um dia posso me prejudicar.
Leia Jorge: Quanto o senhor ganha por dia fazendo carreto?
Antônio Souza: Em um dia muito ruim ganho R$20,00 reais e em um dia bom uns R$60,00.
Leia Jorge: E dá para sustentar a família?
Antônio Souza: E como dá, claro que é com dificuldade mas criei 3 filhos e todos três estão aí,um trabalha e já tem família, a outra terminou a faculdade onde era bolsista e já se formou e a mais nova ganhou uma bolsa pra estudar na Itália,então não tenho do que reclamar meu papel já fiz,sei que não dei uma vida de luxo para meus filhos mais o que pude fazer fiz e nunca passaram fome.

Leia Jorge: Sobra algum tempo em sua rotina para viajar ou passear?
Antônio Souza: Sobra tempo não moça,viajar é luxo,todos os dias bem cedo meus clientes já estão me esperando na feira não posso faltar com eles um dia sequer.
Leia Jorge: Tem algum projeto de vida ou sonho que ainda não realizou?
Antônio Souza: Ah tem sim, quero ver se dá pra guardar um dinheiro , um dinheirinho por mês pra comprar um terreno na ilha e construir uma casa , pequena mas que dê pra passar o fim de semana ou até morar  quando eu estiver velho.
Leia Jorge: Salvador foi considerada a pior cidade para se morar , o senhor concorda com essa pesquisa?
Antônio Souza: Não,tudo bem que tem muita coisa para melhorar como esse trânsito infernal todo dia,a saúde ,agente quer ir no médico e não acha assim só com muita dificuldade,mas a pior não é pois eu nunca tive emprego de carteira assinada e nunca passei fome,se não achava emprego ia vender picolé ou cachorro-quente.Aqui na feira antigamente ninguém podia vender nada pois os rapa vinha e botava todo mundo pra correr mas agora a uns 4 anos nunca mais apareceram aqui agente pode ficar sossegado.

Por entre as ruas do Pelô

Laís Oliveira

A insegurança no Pelourinho tende a cada vez mais assustar e afastar os moradores, comerciantes, baianos, e principalmente os turistas do local. Essa realidade é notada por conta dos grandes contrastes presentes entre os caminhos escuros e seguros, lugares desassistidos e pontos perigosos.
Baseado nesse contexto, o que predomina no local é uma sensação de insegurança ou violência real? Diante de diferentes opiniões, depoimentos e relatos, podemos afirmar que o Centro Histórico de Salvador não é mais o mesmo de alguns anos atrás.
O Pelourinho, que vai da Praça Municipal, onde está o Elevador Lacerda, até o Largo de São Francisco, disponibiliza de uma variada estrutura de serviços, desde agências de turismo, bancos, bibliotecas, consulados, estacionamentos, Balcão de Justiça e Cidadania (Bjc) e o Serviço de Atendimento ao Turista (Sat), postos de saúde, até os responsáveis pela segurança, como o 18º Batalhão de Polícia Militar (18º BPM), a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur).
“O Centro Histórico é monitorado 24h por câmeras, com policiais militares em pontos estratégicos, além de reforço militar pelo Curso de Habilitação de Sargentos (CHS). Logo, não há pontos perigosos, e sim alguns lugares desassistidos, por conta do comércio fechado e da ausência de pessoas”, relata o soldado Silas de Oliveira, do 18º BPM.


Sua posição é apoiada por Júlia Souza, baiana da ladeira do Pelourinho, que em 23 anos de trabalho nunca foi assaltada. “A polícia fica 24h fazendo a segurança daqui e qualquer coisa que acontece vem duas, três viaturas”.
Já para Danielly Sanches, gerente da loja a mais bela do Pelô, os lugares mais perigosos do Pelourinho são a Rocinha, na Rua Alfredo de Brito, a Rua 28 de setembro e a Gravatá, as quais há aproximadamente um ano os policiais fazem a segurança, mas ainda assim considera perigoso.
 “O esquema da polícia militar é fraco na região dos moradores, de vez em quando que passa uma viatura. Ficamos amedrontados principalmente quando anoitece, pois esse é a hora que os motoqueiros mais assaltam”, relata Jackson, morador da Rua Santo Antônio há 50 anos.

Aprendendo a viver com a (in)segurança

Segundo alguns moradores e comerciantes, os assaltantes agem mais na troca de turno da polícia militar e a noite, mas outros afirmam que não existe mais horário e nem dia para ser mais uma vítima, basta dar um ‘vacilo’. 
De acordo com Vilobaldo Filho, morador do Santo Antônio há 20 anos, o pessoal da ‘ribanceira’ são os que mais roubam, desde futilidades, como bateria, pneu de socorro, tampa de som, chave de roda e macaco, até o próprio carro. “Já tive minha casa e meu carro roubado, também já fui assaltado na porta da minha casa”, relata.
“A polícia militar deixa a desejar na troca de turno, no momento em que um policial sai e outro entra, é que os pivetes agem”, explica Danielly. Ainda segundo a comerciante, “os turistas ‘dão mole’ deixando de bobeira a máquina, o tablet, usam correntes de ouro, e por isso acabam sendo alvo dos ‘pivetes”.





Já para a baiana Júlia, se tanto os baianos como os turistas passarem de noite por lugares pouco movimentados, em ruas transversais e sem movimento, serão alvos dos moleques.
De acordo com Hemetério Garrido, morador do Santo Antônio há 37 anos, “os ‘gringos’ (turistas) são os mais roubados nessa região, a exemplo de um europeu que estava produzindo um documentário sobre o Pelourinho para divulgar na Alemanha e teve todo seu material roubado”.
Já Maria de Fátima, moradora da Rua Santo Antônio há 32 anos, diz que a violência não é mais restrita a um bairro, “hoje em dia, corremos perigo em todos os lugares da cidade e não existe mais um público preferido”.
O Pelourinho virou terra de índio
Perigo, medo e insegurança por trás de uma rica arquitetura barroca, cultura e calorosa recepção. Esse é o contraste que faz o Centro Histórico de Salvador ‘virar terra de índio’.
“O Pelô nunca mais será o mesmo, ele está largado às baratas, é tanto lixo, fedor, insegurança, que faz com que os próprios baianos não gostem de andar aqui, infelizmente nós só ganhamos dinheiro com os turistas”, pontua Danielly.
De acordo com o soldado Silas, “não existe índice de homicídios no Pelourinho, ao contrário de outros pontos de Salvador, o que existe são moleques viciados que furtam algum objeto de valor para comprar drogas”.
 “Quem é de Salvador não entra em vias escuras e sem policiamento, já os turistas ao entrarem em uma dessas vias, podem ser vítimas de oportunistas, por isso não devem andar com objetos valiosos, a exemplo de correntes de ouro, celulares, máquinas, e também devem evitar levar todos os documentos no bolso”, completa o soldado.
Jackson salienta: “Já fui assaltado na porta do bar, às 16 horas, eles estavam com revólveres na mão, roubaram celulares e dinheiro de todos os presentes e em seguida saíram ‘de boa’ e entraram no carro”.
Segundo a moradora Maria, as pessoas deixam de frequentar o bairro à noite por conta do perigo, “eu perdi o meu pai em um assalto aqui”.

A cracolândia no Pelourinho
Segundo estudos, o crack, que surgiu nos guetos, leva 10 segundos fazer efeito e ainda é sete vezes mais forte que a cocaína, além de levar os seus usuários ao vício e à morte rápida. Posso dizer assim, que os meninos de rua, das obras de Jorge Amado, ‘trocaram’ a capoeira pelo crack.
Os relatos de alguns moradores e comerciantes do local confirmam que a violência está diretamente ligada ao tráfico de drogas, principalmente ao uso do crack.
“Todos os dias eles usam drogas, e a onda agora é cheirar crack,”, pontua Danielly. Sua posição é apoiada pelo morador Jackson, que afirma que deveriam ter policiais à paisana na boca de fumo.
“A Ladeira do Pilar, mais conhecida como ‘Rala Bunda’, é o ponto de tráfico de drogas da região e daqui a pouco tempo será considerada a nova cracolândia”, relata o morador Vilobaldo.
De acordo com Hemetério, o Governo do Estadual está doando 107 casas para os moradores da Ladeira do Pilar, “mas muitos dos que tiveram esse benefício já venderam a casa ou são traficantes, essa obra não vai recuperar ninguém”.
Assim, entre suposições, inquietações, medos e angústias, eis a grande e polêmica questão; Afinal, o Pelourinho é ou não perigoso?

Viver o Centro Histórico de Salvador

Laís Oliveira

Jornalista, revolucionário, escritor, agitador cultural e comerciante. Essas são algumas das palavras possíveis de definir Clarindo Silva (70), dono do restaurante Cantina da Lua, fundado em 1945, que alguns anos depois tornou-se um ponto de encontro de intelectuais e grandes artistas da música brasileira, a exemplo de Beth Carvalho, Chico Buarque de Holanda e Maria Bethânia.
Clarindo, que também coordena o Projeto Cultural Cantina da Lua, é uma das figuras mais representativas e carismáticas do Pelourinho, além de ser um dos maiores militantes na luta pela revitalização do Centro Histórico de Salvador, além de ser criador da Terça da Bênção, que é vinculada ao Projeto.
O objetivo dessa entrevista é divulgar a importância e a preservação do Pelourinho como patrimônio histórico e cultural da cidade, mediante a tamanha devoção, resistência e luta de Clarindo Silva.


Clarindo Silva com o seu livro Memórias da Cantina da Lua, 4ª edição.

Leia Jorge: Como pode relatar a importância do Centro Histórico de Salvador?

Clarindo Silva: Vejo o Centro como um grande coração desse país, ele é a porta de entrada de Salvador. E ele não pode funcionar sem as suas artérias, a exemplo da Ladeira do Pilar, Ladeira Caminho Novo do Taboão, Ladeira da Misericórdia, Ladeira da Montanha, Ladeira da Preguiça, Ladeira do São Francisco, Ladeira da Saúde, Rua Pau da Bandeira, Rua 28 de setembro, Largo da Palma, enfim, estou falando sobre uma área em que se vê a história cultural, a vida social, a política, a experiência e luta do passar dos anos. Costumo dizer que moro aqui e durmo em casa, passo mais tempo aqui do que em minha própria casa.
Leia Jorge: Então falar do Pelourinho é falar da política do local?


Clarindo Silva: Sim, porque até a década de 40 o Pelourinho era um grande centro político, social, econômico e financeiro da cidade, mas após a Segunda Guerra Mundial, as antigas famílias começaram a migrar para outros bairros, a exemplo do Corredor da Vitória, da Graça, da Barra e Campo Grande.

Leia Jorge: Mas como aconteceu o processo de esvaziamento do Pelourinho?

Clarindo Silva: Já na década de 70, pude assistir o mais perverso processo de esvaziamento do local, acabando com a Faculdade de Medicina, com as Sedes do Infra, com a Academia da Grande Bahia, além de fecharem o Santo Antônio, o Centro Popular, desativarem o Projeto do Pilar, a Sede do Taboão, a Administração do Estado e Município, o BANEB, a Caixa Econômica Federal, entre outros, e por isso o Pelourinho acabou virando um gueto.

Leia Jorge: E quando foi o surgimento do restaurante Cantina da Lua?
Clarindo Silva: Em abril de 1945, fundado por Renato Santos, mas 50 anos depois o restaurante Cantina da Lua, já em minha administração, virou um espaço cultural, político e social de luta e resistência, reunindo boêmios, intelectuais e alguns anônimos, com a perspectiva de lutar pela revitalização e preservação da nossa memória cultural. E nesse período, em 1983, que surgiu o Projeto Cultural Cantina da Lua.


Leia Jorge: A ideia da Festa da Benção, às terças-feiras, foi após a implantação desse projeto?

Clarindo Silva: Sim, o surgimento da Festa da Benção foi a partir do Projeto Cultural Cantina da Lua, que além do caráter religioso, também virou um grande marco no Pelourinho e foi o seu principal processo alavancador, onde os baianos e turistas faziam uma grande e linda festa. Nós também convidamos o Olodum para tocar nas terças-feiras e foram muito bem vindos.

Leia Jorge: Quais foram as iniciativas da Cantina da Lua?
Clarindo Silva: Entre 1983 a 1991, fizemos cerca de 800 shows na Cantina, já realizamos um manifesto à nação, e fomos ainda mais ousados quando entregamos a carta do Projeto Cultural Cantina da Lua ao Papa João Paulo II, aqui no Brasil.

Leia Jorge: E as iniciativas após essa época?
Clarindo Silva: A partir de 1991 começou um novo processo, quando o ex-prefeito Antônio Carlos Magalhães assumiu o governo, discutimos a questão da revitalização do Pelourinho, embora já tivesse sido discutida antes quando participei de uma reunião como assessor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).



Em 1993, o Projeto Cultural Cantina da Lua e a Festa da Benção comemoraram 10 anos.


Leia Jorge: Como foi realizada a revitalização do Pelourinho?
Clarindo Silva: As obras de revitalização deveriam ser por quarteirões, porque quando chegávamos à última casa, as primeiras casas restauradas já estavam um tanto deterioradas. Mas, para minha tristeza, não consegui revitalizar o Centro Histórico por etapas, por quarteirões e isso causou alguns constrangimentos, pois esse projeto não passou da sexta etapa.


Leia Jorge: Então quais foram as reformas realizadas?
Clarindo Silva: Reformamos algumas casas da Rua Gregório de Matos, Rua Frei Vicente, entre outras, mas houve uma falha na condução das pessoas que habitaram esses espaços, por não terem noção de educação cultural, que é algo básico de quem vai morar no Centro Histórico. Fato evidenciado em uma visita realizada dois anos após as reformas dos casarões, onde encontramos paredes e vasos quebrados, mesmo com tudo de boa qualidade.


Leia Jorge: Afinal, qual a situação atual do Pelourinho?

Clarindo Silva: Entre 1993 até mais ou menos 2008, o Pelourinho foi transformado em um grande point dessa cidade, mas hoje ele está reduzido a um lugar em que os baianos não frequentam, pelo fato de estarem cansados de admirar a beleza do local, mas quando tem um evento os próprios baianos lotam isso aqui.


Leia Jorge: E como são estruturados os eventos?

Clarindo Silva: As Praças Quincas Berro D’Água e Tereza Batista sempre alimentaram os eventos do governo, mas o governo mudou e esse não possui a mesma visão do outro, o que infelizmente foi altamente prejudicial para o comércio. Muitos dos comerciantes fecharem as portas também devido ao grande endividamento dos que são ‘supervisionados’ pelo Ipac, com uma dívida de quase 10 milhões. O governo dificulta o pagamento, porque também tem a questão da Coelba e Embasa, decorrente disso, alguns estabelecimentos tiveram as vendas reduzidas em até 70%.




“ Costumo dizer que moro aqui e durmo em casa, passo mais tempo aqui do que em minha própria casa ”


Leia Jorge: Isso pode ser devido a falta de segurança do Pelourinho?
Clarindo Silva: O Pelourinho não é perigoso, existe um batalhão da polícia militar, delegacia de proteção aos turistas, posto policial, além de 12 câmeras monitorando a área. O que existe é uma mídia negativa em dizer que aqui é perigoso, ocasionando assim em um processo de esvaziamento.


Leia Jorge: Conhece casos de furtos nessa região? São frequentes?
ClarindoSilva: Não tenho notícia de ninguém que tenha sido roubado ou assaltado com arma, eles utilizam ‘arma branca’, para realizar pequenos furtos, como correntes de ouro e relógios, assim como em qualquer parte do mundo. Mas tem cinco anos que não se rouba um carro da Praça Castro Alves até a Rua do Carmo.


Leia Jorge: Mas então o que é preciso para mudar esse quadro?

ClarindoSilva: Eu, que sou da terra, sinto uma grande ausência de trabalho social, se as Secretarias do Estado e Município tivessem uma atuação no mesmo nível que a Polícia Militar e Civil, certamente o Pelourinho seria muito tranquilo. Pelo fato da sensação de insegurança ser causada pela abordagem, com a maioria das pessoas mal vestidas e fétidas, pedindo dinheiro, dando uma fitinha como cortesia, tocando nos visitantes, algo que para nós baianos é um incômodo, imagine para os europeus que não gostam de ser tocados? E isso não é trabalho de polícia, é uma questão social.

Leia Jorge: E sobre o tráfico de drogas, cada vez mais crescente aqui?

ClarindoSilva: Hoje, o crack é uma epidemia, mas o Governo ainda não ‘acordou’ para enxergar que essa droga está dizimando a nossa juventude. O usuário viaja na ilusão de que o crack é uma droga barata, que varia de 3 a 5 reais e que dá o ‘barato’ em 15 minutos. Por isso, tem que haver uma grande mobilização nacional, porque a droga está matando mais do que a Aids ou qualquer outra doença, e o pior disso tudo é que os nossos jovens estão morrendo.

Leia Jorge: Quais devem ser as iniciativas do Governo mediante essa situação?

ClarindoSilva: Esses jovens precisam de um tratamento de saúde e de um acompanhamento junto com os seus familiares. Mas o Governo tem sempre a ideia de que se deve prender o usuário de drogas, e essa medida não recupera ninguém, pois tende a piorar a sua situação e dependência. A exemplo disso, já pude recuperar alguns meninos, que eram usuários de drogas.

Leia Jorge: Fale um pouco sobre o seu livro.

ClarindoSilva: O Livro memórias da Cantina da Lua, escrito por mim, já está em sua 4ª edição, abordando um verdadeiro caso de amor com o Pelourinho. A obra reúne depoimentos de frequentadores do Cantinho, de jornalistas, escritores, sociólogos, psicólogos, pedagogos, artistas plásticos, pessoas que tem muito a acrescentar e experiências a passar sobre momentos passados no Centro Histórico de Salvador.

 
Clarindo Silva, um verdadeiro caso de amor com o Pelourinho”.
 


Registro de visita e entrevista com o Clarindo Silva. (9/09/2012)