quarta-feira, 28 de novembro de 2012

UFC político: DEM x PT


Liviane Carvalho

Mesmo com seis candidatos a prefeito, os cidadãos de Salvador deixaram o drama e ansiedade tomarem conta de dois principais lutadores políticos, ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT).  Durante três meses de intensa política, Neto e Pelegrino se enfrentaram várias vezes em debates para divulgar suas ideias e conceitos sobre o que a capital Baiana precisava e precisa.
Em meio às discussões, comícios e entrevistas dadas pelos dois, o foco do discurso sempre estava voltado para os planos da cidade mais animada do estado da Bahia, mas as oportunidades de alfinetar de leve o rival não foram deixadas um minuto sequer.
Com o ringue formado e casa cheia de telespectador ansioso pelo fim da luta, estudantes, trabalhadores e pesquisadores políticos comentaram em alta a disputa mais quente dessa eleição de 2012 e, mesmo depois da eleição, ainda há o que falar. Esse é o caso de Paulo Roberto, estudante de Relações Pública pela UNEB, e Jailson Santana, 36 anos, Projetista de Tubulação.

DEM    X   PT


Qual sua percepção sobre todo o embate político entre o DEM e o PT?

“Vejo uma disputa inicialmente ideológica, pois são partidos com orientações totalmente distintas e, num plano secundário, uma disputa para a manutenção de uma hegemonia do PT contra um partido que tenta se levantar”, diz Jailson Santana. Com outra analise, Paulo Roberto vê as diferenças hegemonias de anos atrás e explica o porquê, “Antes do PT ter a chance de governar, existia a expectativa de mudanças significativas. No entanto, apesar dos avanços sociais, o que houve foram mudanças paliativas, não mudaram as estruturas existentes, falo isso com pesar e cito como exemplo a educação básica”.

Você assistiu aos debates transmitidos pela TV? O que achou dos dois candidatos, defesas e ataques?

O estudante Paulo e o Projetista Jailson, tiveram uma percepção similar nos debates vistos por eles. Paulo - Assisti a um debate no 1º e um no 2º turno, achei que as trocas de ofensas dominaram, tomando o lugar que deveria ser de apresentação de propostas. O candidato ACM Neto claramente tem melhor discurso, com uma oratória mais fluente que seu adversário, acho que isso contribuiu para os eleitores que decidem a partir dos debates. Jailson- Infelizmente apenas um, mas percebi coerência e firmeza do lado do representante democrata. Do lado petista, percebi muita dependência das figuras de maior expressão nacional da sigla, com discursos “batidos” e práticas obsoletas.

Acha que os debates influenciaram na escolha do candidato final?

Mesmo de lado opostos na política, a resposta é a mesma. Jailson Santana foi direto em dizer, Sim. Paulo acrescentou um pouco mais e disse; “Acho que sim, existe uma parcela de eleitores que usa o debate como parâmetro”.

Jaílson Santana, Projetista de Tubulação.
Paulo Roberto, estudante.



Essa briga entre o DEM e PT é velha, o que tem a dizer?

Com o discurso preparado, Paulo explica toda a briga; “É uma polarização que remete a histórica briga esquerda e direita, embora o cenário atual não permita mais essa divisão. Com a conjuntura política global, os lados não são mais tão “puros” em suas ideologias. A briga é pelo poder”, afirma. Jailson vê a administração política como um ponto foco nas  disputas partidárias; “Com ideologias distintas, tentam reimplantar ou manter a sua forma de administrar”, diz.

Qual seu vinculo com a política?

Jailson diz não ter qualquer vínculo. Já o jovem Paulo, relata:vínculo de alguém que vota desde os 16 anos por acreditar na importância desse ato, de quem busca ler, se informar e discutir sobre política, não somente da política partidária, também do sentido da ação política que está em cada um de nós, como seres que interagem socialmente como base de sua sobrevivência”, revela.
E como todo bom embate, as discussões políticas na vida das pessoas influenciam em seu cotidiano. Paulo diz ter discutido o assunto em todos os espaços de seu convivo e acrescenta: “gosto das discussões, dos embates políticos, acho interessante lidar com o ponto de vista contrário em temas polêmicos”. Jailson é rápido em dizer:sim”.



Quais os pontos positivos e negativos você pode tirar deste embate político?

Jailson conta que “o desejo de renovação por parte da sociedade brasileira, haja vista o grande número de novos administradores eleitos, contrapondo com o lado negativo que foi o alto índice de abstenções registrado pelo TSE, nesta última eleição, e complementa em dizer que, o segundo turno é uma demonstração de que a luta entre DEM x PT, pode sim, acabar. Basta haver interesse comum em questão”. Para Paulo, os pontos positivos estão na riqueza de todo discurso político, já os negativos, no jogo de interesse e a expansão da politicagem, explica.
E em relação ao segundo Turno e termino da disputa do DEM x PT, Paulo conta: “dependendo da luta pela hegemonia no poder, a luta nunca vai acabar, e acho que a campanha de Pelegrino pecou ao não mudar de estratégia, foi um tiro no pé continuar a se respaldar da parceria, usando o nome do desgastado Wagner e dando argumento ao adversário. Neto focou em difundir sua capacidade de mudar o que está posto sem a dependência dos governos estadual e federal e acabou dando certo. Além é claro do efeito que as greves tiveram principalmente a dos professores da rede estadual, que fizeram campanha contra o PT”, explica.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O consumo cada vez mais precoce do álcool

Kamila Alves


Allan deu o seu primeiro gole em uma bebida alcoólica aos 13 anos. O seu pai permitiu que ele experimentasse apenas um pouco de vinho durante um jantar de família. Aos 15 anos, o adolescente já conhecia os efeitos causados pelo excesso do álcool. Aos 17, o estudante do segundo ano colegial já acumulava histórias e vexames causados pelo famoso “porre”. Desde uma briga com a namorada – ele bateu nela – até um striptease no balcão de um bar de uma famosa boate em Salvador. Mas, na opinião dos pais, Allan é um santo. “Na frente dos meus pais, eu só bebo com moderação. Mas, quando estou com a galera, para ser descolado e popular, tenho que beber”, diz.

Proibidas para menores de 18 anos, bebidas alcoólicas (cerveja, vinho, vodca e uísque) estão cada vez mais presentes na rotina dos jovens adolescentes. Sem o controle dos pais e sem o próprio controle, jovens que ainda frequentam as escolas têm livre acesso as bebidas regadas a álcool em festas, baladas ou bares.

Apesar de ser proibida para menores de idade, não é difícil para um jovem adolescente comprar uma bebida alcoólica. A compra é facilitada. Adolescentes frequentam festas conhecidas como open-bar, em que alguns tipos de bebidas são distribuídas livremente para quem pagou o valor da entrada.

“Normalmente os seguranças responsáveis pela entrada das pessoas nos eventos não pedem documento e, quando pedem, os jovens costumam apresentar um RG com a idade alterada”, conta a socióloga Adriana Pinheiro.

Segundo uma pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 80% dos adolescentes já beberam alguma vez na vida e 33% dos alunos do Ensino Médio consumiram álcool em excesso no mês anterior a pesquisa. Outro estudo, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) com universitários, mostrou que 22% dos jovens estão sob risco de desenvolver dependência de álcool.

“Apesar de preocupante, isso já era algo esperado, pois os jovens consomem álcool cada vez mais cedo, o que acaba por ocasionar um maior risco de dependência”, afirma a socióloga.

Clínicas e grupos de jovens alcoólatras estão sendo cada vez mais procurados por esses adolescentes que estão viciando-se no álcool. Segundo Allan, alguns amigos vão a festas open-bar somente pelo prazer de poder beber gratuitamente, e não por qualquer outro motivo.
A família tem um papel importante na resolução desse problema do vício. Proibir exageradamente não é a melhor maneira de orientar o jovem, pois desperta ainda mais o interesse e a curiosidade.

O importante é a família abrir espaço para o jovem conhecer o assunto e saber lidar com as surpresas que surgem no decorrer da vida, para que, assim, eles possam se assegurar e rejeitar a bebida que lhe é oferecida, sem se sentir ameaçado por não aceitá-la”, finaliza Adriana Pinheiro.

A apologia da bebida alcoólica na música

Kamila Alves

A dupla sertaneja Guilherme e Santiago canta uma música que diz assim: “Eu fico triste, alegre/Sem beber eu fico triste, bebendo eu fico alegre”. Em um outro trecho da música, o consumo do álcool é destacado: “Há felicidade num copo de bebida...”

Essa música é somente um exemplo de como beber e ficar bêbado pode ser visto de forma poética por diversos compositores. Porém, ainda que possua um maior índice de popularidade atualmente, as músicas que valorizam o consumo do álcool começou há muito tempo. A dupla Tonico e Tinoco provaram isso quando cantaram a música “Pinga Ni Mim”, que diz assim: “Pra Curar O Meu Despeito/Vou Meter Pinga No Peito/Sufocar Meu Coração/Nesta Casa Tem Goteira/Pinga Ni Mim, Pinga Ni Mim”.

“Isso que dizem sobre as músicas fazerem apologia ao consumo do álcool é pura baboseira, pois só se a pessoa for muito influenciável pra se deixar levar por causa de uma música”, O estudante do ensino médio, Allan, 17 anos, fala qual é o seu ponto de vista.

Quem é acostumado a beber diariamente e não assume que é alcoólatra realmente vai achar uma tremenda bobagem discutir sobre o tema, mas, vale lembrar que não é somente uma música, é cultura popular. "Beber até cair" é uma expressão usada de maneira tão banal que as pessoas não percebem o mal que canções com letras desse tipo podem fazer, principalmente, para adolescentes que ainda estão com a personalidade em formação.

Segundo o sociólogo e professor Carlos Nestor, não adianta o poder público se esforçar na fiscalização de estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas para menores de idade, sendo que a própria mídia faz apologia ao consumo sem restrição e de maneira descarada. Em atitudes como essas está a raiz do problema. O jovem acha que precisa beber ou fumar para ser respeitado entre seus amigos. E é levado a pensar assim.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Comidas de santos na Bahia

O universo do candomblé e as chamadas comidas rituais

Laura Carvalho

A Bahia, na sua riqueza cultural que engloba o sincretismo religioso, mostra que a comida é também uma tradição que foi trazida do continente africano pelos escravos e que foi mantida no culto do Candomblé. As comidas que são oferecidas aos orixás são as chamadas  “comidas rituais”, as quais cada um deles tem a sua específica.
O ritual para fazer a comida de orixá é complexo e elaborado, seguindo os códigos e princípios do Candomblé. Segundo Lúcia Santos, praticante do candomblé, “a comida é oferecida aos Orixás acompanhada de rezas e cantigas, e em grande parte são distribuídas para todos os presentes.”
“As comidas oferecidas aos orixás são também chamadas comida de axé, pois acredita-se que o Orixá aceitou a oferenda e a impregnou de axé”, afirma Lúcia. Em entrevista, ela tira algumas dúvidas que temos sobre as comidas de santos:


Leia Jorge: Qual a finalidade da oferenda?

Lúcia Santos: A oferenda mantém o equilíbrio das relações entre os homens e os orixás.

Leia Jorge: Como acontece esse ritual da oferenda de comida ao orixá?

Lúcia: Fazemos as oferendas com rezas e cantigas. Tudo faz parte de um ritual, onde o orixá se alimenta da energia e da vibração da comida que nós oferendamos a ele. 

Leia Jorge: O que deve ser oferecido à Iemanjá?

Lúcia: Iemanjá prefere peixe de água salgada, regados ao azeite e assados, milho branco cozido e temperado com camarões, cebola e azeite doce, manjar com leite de coco e acaçá.

Leia Jorge: Sabe-se que o acarajé, iguaria conhecida por todos, é uma comida tipicamente do candomblé. Para que orixá é oferecido o acarajé?

Lúcia: O acarajé é a comida ritual do Orixá Iansã.

Leia Jorge: Quais são os ingredientes predominantes nas comidas oferecidas aos orixás?

Lúcia: Pode-se dizer que o camarão seco, a cebola e o azeite de dendê. O feijão fradinho, o quiabo, o inhame e o milho branco são os ingredientes-base de pratos como o omolocum, o caruru, o acará, o ipeté e o acaçá.

Leia Jorge: Existe alguma regra ao fazer a comida para os orixás?

Lúcia: Sabemos que não se deve dar as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe em comida de orixá com colher que não seja de pau e que a comida de orixá mexida por duas ou mais pessoas desanda.

Leia Jorge: O que são as chamadas “comidas secas”?

Lúcia: As comidas secas, ou comidas frias, são todas que não são provindas de sacrifício do animal, ou as que são à base de grãos, raízes, folhas e frutas.

Leia Jorge: Qual o real significado da comida para o candomblé?

Lúcia: A comida tem uma dimensão valorativa, sendo estendido o alimento do corpo e também do espírito. Comer é estabelecer vínculos e processo de comunicação entre os homens, deuses, antepassados e a natureza.

domingo, 25 de novembro de 2012

Zequinha do Beco


Laís Lopes

Ser pitoresco! Ser interessante, inusitado, diferente, curioso! É comum qualquer pessoa ter um amigo, familiar ou alguém que possui alguma dessas características quando não todas elas, o que faz esta pessoa chamar atenção, causar burburinho. E assim como o ‘Professor’ de Capitães da Areia, que era intelectual, contava histórias e se fazia diferente dos demais... No Beco do Cirilo também foi possível encontrar alguém assim.


Por isso, o Leia Jorge entrevistou Ubiraci Aragão, filho de José Caldeira de Almeida... Mais conhecido como ‘Seu Zequinha’ e descobriu muitas curiosidades sobre essa personalidade que deixou muita alegria na comunidade.

Leia Jorge: Como era a relação do seu pai com o pessoal do bairro?

Ubiraci Aragão: A relação dele com o pessoal de onde morávamos era a melhor possível, sempre brincalhão, adorava um jogo de dominó e ria muito com os amigos. Aos domingos assistia aos jogos de futebol, tradicionais na comunidade, e depois vínhamos para casa. O problema dele sempre foi a bebida... O meu pai era alcoólatra , mas era uma pessoa boa. Nunca presenciei ele discutindo com ninguém, ele era mesmo de fazer brincadeiras.

Leia Jorge: Onde ele trabalhava?

Ubiraci Aragão: O meu pai criou a mim e os meus 9 irmãos lá no Beco do Cirilo através de muita labuta na feira de São Joaquim, onde ele trabalhava tirando cargas.Na época não se tinha veículos para se fazer transporte tudo era feito no lombo de algum animal, por isso o meu pai trazia tudo em um burro, que ele chamava de Russo!

Leia Jorge: Russo? Então o burro era de estimação?

Ubiraci Aragão: “Sim ele ficava perto de onde hoje é o campo de futebol e antes era uma horta. Tinha um campinzal, era a casa do Russo. O engraçado mesmo era quando o meu pai voltava da feira depois de tomar umas duas...


Leia Jorge: O que acontecia?

Ubiraci Aragão: Não era meu pai que trazia o burro pra casa e sim o inverso! Depois da bebedeira ele subia no lombo do burro e assim vinha pra casa. Russo parecia um animal adestrado. (risos) Mas, na realidade era mesmo coisa de costume, de convívio. Situação muito engraçada porque  diziam que quando a sinaleira ali nas imediações da Soledade fechava ele parava e quando  abria ele seguia caminho  e depois trazia o meu pai pra nossa casa.É como se soubesse o caminho. O RUSSO era genial! 

Leia Jorge: Quando o seu pai faleceu e como foi isso?

Ubiraci Aragão: Quando o meu pai faleceu com 79 anos eu já era adulto. Ela morreu de uma doença chamada fecaloma. Antes ele fez uma anputação na perna devido a uma grenguena. A morte dele foi difícil para toda nossa família. Ele como patriarca era muito importante pra nós.

Leia Jorge: Qual é a melhor lembrança que você tem do Seu Zequinha?

Ubiraci Aragão: É o fato dele gostar mesmo da família. Morávamos numa casa de quarto, sala, cozinha e um banheiro recuado. Mas, apesar de todas as dificuldades ele nunca deixou faltar comida na mesa. Pra ele pode ter 300 pessoas, 400 ... Ele não reclamava. A única coisa que ele reclamava é se o café não estivesse quente! (risos). A perda pra gente foi muito dolorosa. Mas, guardo as melhores lembranças do meu pai.

Representações da Rainha das Águas Salgadas na capital baiana


Por Artur Queiroz

Yemanjá é com certeza a orixá com maior popularidade em Salvador. Uma das grandes provas disso é o fato de a sua imagem estar representada em diversos pontos da cidade, como na Colônia de Pesca do Rio Vermelho e na orla do bairro de Itapuã.
 
A primeira imagem está representada através de uma estátua que fica sobre um grande pedestal na Colônia de Pesca do Rio Vermelho. Além desta imagem da orixá no local, há também a Casa de Yemanjá, local frequentado por baianos e turistas.

No dia 2 de fevereiro, dia em dedicado para celebrar esta orixá, uma multidão vestida de branco se reúne no Rio Vermelho para levar ao mar oferendas, como uma forma de prestar homenagem e ao mesmo tempo de pedir proteção à rainha das águas salgadas.

Esta proteção que é pedida pelos fiéis no início de fevereiro, é pedida todos os dias pelos pescadores da região, que não entram no mar para iniciar um dia de trabalho sem antes pedir uma espécie de permissão a Iemanjá para entrar no mar. “A gente pede proteção pra fazer com que o mar esteja bom para a gente sair pra pescar, pede proteção também para o nosso caminho de volta, mas a gente também não pode deixar de pedir fartura, pra que o mar tenha muito peixe que a gente possa pegar” afirma o pescador Ronaldo Francisco.

No bairro de Itapuã a pequena imagem da orixá fica sobre uma grande pedra na orla do bairro. Itapuã é um dos bairros mais famosos da cidade pela sua bela paisagem e por ter sido imortalizado na poesia de Vinicius de Morais e Toquinho na canção “Tarde em Itapuã”. “Essa imagem da sereia de Itapuã é uma das representações mais fortes de cidade de Salvador. Primeiro porque temos Iemanjá em uma posição firme, de guerreira, com seu espelho posicionado para o alto. Segundo porque está bem aqui na orla, perto do mar de onde ela é a grande mãe, a grande rainha. E terceiro porque Itapuã é um cartão postal da cidade. Esse conjunto forma uma imagem muito forte, é pra mim uma espécie de símbolo da capital baiana.”, afirmou o fotografo e historiador Ubaldo Lessa, que é do Espirito Santo, mas está a passeio na cidade.


sábado, 24 de novembro de 2012

A mulher militar


Thaís Barcellos


Coturno, colete a prova de balas, arma na cintura, tudo isso faz parte do dia-a-dia de um policial. Há 22 anos que as mulheres estão inseridas no quadro da corporação da Polícia Militar da Bahia. 


A inserção da mulher na PMBA teve início após o Decreto Governamental de número 2.905, de 12 de outubro de 1989, que criou a Companhia de Polícia Militar Feminina. Após o concurso, foram incorporadas 27 Sargentos e 78 Soldados, que compuseram a primeira tropa policial militar feminina da Bahia.

Primeira turma de mulheres da Polícia Militar da Bahia
Há 14 anos na PM a soldado P. da Polícia Militar da Bahia diz que já sofreu preconceito por ser mulher “entrei muito nova, com 19 anos, era magra, e estatura mediana, e os próprios colegas achavam que a profissão não é p/ mulheres, muitas vezes somos testadas e precisamos ter atitude sempre.”

Apesar de não poder usar brincos grandes e o cabelo estar sempre preso com um coque P. fala que é possível manter-se arrumada 
mesmo usando farda e enfrentando um dia-a-dia corrido de uma policial “sempre fui muito vaidosa e feminina. Sempre me preocupei p/ não perder a minha feminilidade”

P. afirma que não vê dificuldades para exercer sua profissão, mas destaca que é necessário gostar do que se faz “Para ser policial independente do sexo, precisa ter perfil, atitude e condicionamento físico para exercer a sua função, pois é uma profissão que necessita ter algumas habilidades, e acima de tudo coragem. O profissional deve está sempre preparado fisicamente e psicologicamente.”

P. diz que mesmo os homens sendo mais fortes fisicamente, não há impedimento para que as mulheres enfrentem situações de perigo. “pois tivemos aula de defesa pessoal e independente do sexo, estamos capacitados p/ enfrentarmos determinadas situações”


A soldado ama o que faz porém já pensou em abandonar a profissão “apesar de gostar da profissão, a violência está crescendo muito, e o policial independente de estar folgando ou não, ele continua sofrendo a tensão do trabalho, não só por ele, mas também pelos seus familiares.”

Centro Maria Felipa

Foi criado pelo Coronel PM Antônio Jorge Ribeiro de Santana, o Centro de Referência da Mulher Policial Militar, Centro Maria Felipa – CMF, onde são oferecidos para as PM Fem serviços estabelecer um núcleo de estudos, consultas e assessoramento para o segmento da PMBA, o serviço se encontra disponível para Policiais Femininas, esposas, filhas, companheiras de militares e funcionárias civis da PMBA.


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Corredor do esporte: Tradição no Comércio de Salvador

Lojas especializadas fazem a fama de uma das ruas do bairro


Juliana Caldas

Golaço, lance, pelota, arena e torcedor. É numa rua estreia do Bairro do Comércio em Salvador que todas essas palavras, tão características da paixão nacional, se encontram. O endereço é Rua do Corpo Santo, famosa por concentrar grande número de lojas especialistas em artigos esportivos. O Leia Jorge perambulou pelo lugar e fez um levantamento de preços dos principais materiais usados no futebol. 

Variedade de produto e preço são atrativos da antiga rua

São mais de 20 estabelecimentos ao longo da velha rua. Nos prédios antigos, grande parte deteriorado, funcionam as lojas. E não demoram a aparecer. Indo a partir do Mercado Modelo, logo na esquina, está a primeira delas. Quem nos atende é Rosângela Lima, vendedora a dois anos da loja que funciona há quase 12. Lá tem de tudo. De bolas a taças, e uma mesa de pebolim à venda por R$ 790. Futebol também se faz com as mãos. As luvas, artigo indispensável para o número um em campo, são vendidas a partir de R$ 27 a R$ 240.
Outros artigos são facilmente encontrados pelas lojas do lugar. Bolas de futebol podem ser compradas pelo mínimo de R$ 20, e chegam a R$ 199. Chuteiras oscilam entre R$ 31 e R$ 270. Algumas lojas vendem kit de uniformes para um time inteiro. São 17 conjuntos, incluindo o goleiro, que variam de R$ 350 a R$ 424,50. E os troféus, símbolos da vitoria, são “conquistados” pelo valor de R$ 6,50 até R$ 380.
Garimpamos por lá em busca das camisas rubronegra e tricolor. A diferença é alta entre as lojas. O manto do Esporte Clube Bahia variou de R$ 150 a R$190, alcançando uma diferença de R$ 40. O Vitória tem suas camisas oficiais vendidas de R$ 147 a R$ 160, a menor diferença avaliada (R$ 13). Já os Ypiranguenses teriam um pouco mais de trabalho. É que a camisa do saudoso Esporte Clube Ypiranga foi encontrada apenas em uma das lojas, à venda por R$ 50.

A Rua do Corpo Santo, que já foi chamada de Lopes Cardoso, em seu estado atual

Tradição e abandono

Não se pode ignorar. As calçadas e o asfalto que cobrem a Rua do Corpo Santo não fazem jus à sua importância. Lixo, entulho e prédios mal conservados são reflexos do abandono de todo o bairro. Essa rua, em específico, é praticamente um estacionamento livre, sobrando pouco espaço para pedestres e trânsito de veículos.
O proprietário de uma das lojas confirma a impressão. “Isso aqui hoje está abandonado, mas já foi muito movimentado”, foi o que disse Hélio Carvalho. O simpático senhor atrás do balcão é dono do mais antigo estabelecimento do local, aberto desde 1971. A mais antiga e também mais completa, garante. “Os vendedores das outras lojas costumam dizer ‘vai na Pelota, se lá não tiver, não procure mais’”, comenta, orgulhoso. Foi lá que encontramos raras camisas como a do Botafogo da Bahia, Galícia Esporte Clube e do saudoso Ypiranga, um dos mais antigos clubes baianos, querido entre ilustres como o escritor Jorge Amado e Irmã Dulce, agora Beata. Ele próprio, Hélio, fez questão de posar para a foto ao lado de duas delas. Mas, quando perguntado sobre sua preferência, é enfático: “torço por todos”.

A loja mais antiga funciona há 41 anos
O dono, Hélio Carvalho, posa ao lado das camisas do Ypiranga

O baixo rendimento do comércio provoca esvaziamento no Pelourinho


 
Laís Carneiro de Oliveira

O objetivo dessa entrevista é divulgar o esvaziamento dos pontos comerciais do Pelourinho, devido ao baixo rendimento e a falta de incentivo no local, além da constante luta da Associação dos Comerciantes do Centro Histórico de Salvador (Acopelô).

Segundo a Associação, a condição do comércio no Centro está cada vez mais difícil, devido ao forte processo de esvaziamento há oito anos e que hoje representa apenas 178 pontos comerciais em funcionamento no local.

“O Pelourinho está vivendo um verdadeiro apagão referente à falta de incentivo e melhorias do governo em relação ao comércio e também à cultura, infraestrutura, segurança e turismo”, pontua a diretoria da Acopelô.

No momento da entrevista, dia cinco de novembro, o então presidente da Acopelô, Lenner Cunha, falou por meio da sua assessoria de imprensa ao Leia Jorge.
 

A Associação é localizada na Rua Portas do Carmo, nº 43, no Pelourinho. (Foto: Laís Oliveira) 


 

Leia Jorge: Quais as mudanças ocorridas no comércio do Pelourinho?

Acopelô: O comércio do Centro Histórico de Salvador sofreu bruscas mudanças desde 2006, pois o governo atual não soube aproveitar o que tinha de bom na gestão anterior, e isso foi altamente prejudicial ao comércio. Antes o Pelourinho era um point dessa cidade, e hoje está reduzido a um lugar com ausência de política cultural.

Leia Jorge: Por quais motivos?


Acopelô: Antigamente o Pelourinho vivia principalmente da efervescência cultural e artística, mas com a mudança do governo, aconteceu um esvaziamento dos artistas e dos visitantes, sejam turistas ou baianos, e isso traz perdas irrecuperáveis para o comércio local. 


Leia Jorge: E qual foi a consequência?

Acopelô: O governo atual preferiu entrar em ‘colisão’ com os comerciantes, ao invés de estabelecer uma conduta diferenciada de mudança e melhoria, para que os baianos e turistas sejam motivados a visitar o Pelourinho e assim também fazer com que o comércio se fortaleça. E o resultado disso é um forte processo de esvaziamento dos comerciantes do Centro Histórico, que lutam para sobreviver e continuar em um local que não apresenta melhoria.

Quadro estatístico baseado nas informações da Acopelô.



Leia Jorge: Então o baixo rendimento do comércio é devido à falta de incentivo do governo?

Acopelô: Não somente a falta de incentivo do governo, mas também é devido a falta de estacionamento, de segurança e desinteresse dos soteropolitanos pelos serviços do local, além da abordagem dos pedintes e vendedores ambulantes, que causam incômodo tanto para os baianos quanto para os turistas.

Leia Jorge: E como essa abordagem influencia no comércio?

Acopelô: Algumas dessas pessoas tendem a desviar, mesmo que inconscientemente, qualquer tentativa de melhorias. Por isso é necessário que haja uma preocupação com a questão social, pois precisamos trabalhar juntos para recuperar o Pelourinho. 

 Fraco movimento nos pontos comerciais do Pelourinho. (Foto: Laís Oliveira)


Leia Jorge: Qual o principal objetivo da Acopelô?


Acopelô: A Associação, que tem 20 anos de existência, possui como principal objetivo fiscalizar as intervenções do governo em relação à revitalização do Centro Histórico de Salvador. A Acopelô não tem caráter político e também não conta com apoio da prefeitura ou governo estadual, mas participa efetivamente das decisões relacionadas ao Pelourinho e também à cidade de Salvador.


Leia Jorge: Poderia relatar algumas das ações da Associação?


Acopelô: Conseguimos fortalecer a atividade empresarial e a vida comercial do Pelourinho, que antes era habitado desordenadamente e sem infraestrutura necessária. No dia 02 de junho de 2010 fechamos todos os pontos comerciais do Centro, em represália pela falta de política cultural do governo estadual. Também fomos responsáveis por trazer um Batalhão da Polícia Militar (BPM) para o local, que no início da revitalização contava com uma tropa de 790 policiais, mas que hoje conta apenas com 370.

Leia Jorge: Qual a mensagem que resume a situação do comércio atual no Pelourinho? 


Acopelô: Que enquanto não houver uma integração entre os poderes da União, do Estado e da Prefeitura, nada irá prosperar aqui. 





Coleção Emília Biancardi divulga a cultura popular tradicional no Pelourinho

                                                         

Laís Carneiro de Oliveira


A Coleção de Instrumentos Musicais Tradicionais Emília Biancardi compartilha a riqueza de instrumentos da cultura popular, divulgando a manifestação artística e cultural afro-baiana para o Brasil e para o mundo.
Essa iniciativa é oriunda das 1005 peças coletadas por Emília Biancardi desde 1962, durante suas turnês e espetáculos em cinco continentes. O acervo foi doado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) em junho de 2011, e este ano foi transferido para o Centro Cultural Solar Ferrão, na Rua Gregório de Mattos, número 31, no bairro do Pelourinho, em Salvador.

Exposição dos instrumentos no Solar Ferrão. (Foto: divulgação)
“A coletânea, com um valor histórico-cultural inestimável, começou a ser formada a partir de uma pesquisa realizada no interior da Bahia. Depois consegui adquirir peças, algumas ganhei e outras pude criar ou recriar, a partir das minhas pesquisas”, explica Emília, etnomusicóloga e pesquisadora da música folclórica brasileira.
De acordo com Emília, alguns dos instrumentos doados são encontrados no Solar do Ferrão e outra parte são apresentados em museus de Salvador e da Bahia na Mostra de Instrumentos Musicais Tradicionais Emília Biancardi. “Essa exposição é utilizada para despertar o interesse pela cultura popular tradicional e pelo folclore”, destaca.
         As primeiras exposições aconteceram no Caribe Cultural Center e na Fundação Cultural de Woodstock Time, no Lincoln Center, em New York, além de exposições em escolas e universidades, também nos Estados Unidos (EUA).


Emília Biancardi com um dos instrumentos da sua Coleção (Foto: divulgação)


Emília Biancardi é nascida em Salvador, formada pela Escola de Música do Rio de Janeiro e responsável pela criação do Viva Bahia, primeiro grupo folclórico do Brasil que propagou o folclore e a capoeira para o mundo. Emília realiza trabalhos sociais desde 1999 e também é especialista nas manifestações tradicionais da Bahia.
“Todas as pessoas que fazem trabalho social fazem por amor, porque nada é feito sem amor”, conclui a etnomusicóloga.
 
Atividades com os instrumentos da Coleção
A Orquestra Museofônica, idealizada pela Diretoria de Museus (Dimus) em parceria com o Ipac,  realiza uma proposta pedagógica musical no Centro Cultural Solar Ferrão.

A ação, voltada para técnicos e profissionais que trabalham em museus, objetiva um aprendizado teórico-prático de instrumentos musicais tradicionais doados por Emília Biancardi, além de promover o conhecimento sobre a sua história e musicalidade.

“O repertório musical foi escolhido por meio de seleção de músicas populares e folclóricas que fizeram sucesso na rádio e televisão entre os anos 50 e 70”, pontua Emília.

As aulas, ministradas pela  etnomusicóloga, acontecem sempre as quartas-feiras,  das 10h às 11h e das 14h às 15h, no Setor Educativo do Solar Ferrão.