quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Pecado Não Existe - A verdade sobre o conceito de promiscuidade


Fernanda Fahel
Inspirada nas prostitutas de Jorge Amado - autor escolhido como tema interdisciplinar deste semestre na Unijorge -, decidi expor minha opinião e alguns fatos em torno de um termo muito utilizado em referência ao mundo das garotas de programa: Promiscuidade!

Assim como a maioria das significâncias relativas à moral do ser humano, o conceito de promiscuidade é, para mim, puramente cultural. Ideologias são construídas no intuito de organizar a própria mente, segundo aquilo que lhe parecer mais favorável a um estado próprio de conforto psíquico. Conforme a maneira como se foi criado e experiências pessoais, cada um de nós desenvolve zonas de satisfação mental diferentes. Aquilo que agrada a uns, não agrada a outros. No entanto, é evidente o quanto, ao longo da história do homem, houve manipulação em prol da satisfação daqueles que se fizeram sabidos e/ou egocêntricos o suficiente para induzir os demais a conforta-se por meio daquilo que garantiria o seu próprio conforto.

Numa verdadeira batalha de ideologias, aquelas que se fazem mais satisfatórias para uma quantidade maior de grupos populacionais se propagam por mais tempo e, conseqüentemente, se enraízam na cultura. Por quanto mais tempo e espaço uma ideologia se propagar, mais difícil tornara-se extingui-la por completo. Muitas vezes, aquilo que antes se delimitava a determinada ideologia passa a ser tomado como verdade universal mesmo fora do âmbito em que se fez verdade. Herdamos moldes comportamentais assim como herdamos características fenotípicas de nossos pais. Capacidade de criar teorias próprias e a ânsia por colocá-las em prática, infelizmente, se desenvolvem com a mesma (ou menos) freqüência que a expressão de genes recessivos.

Não poderia, nesse ponto do texto, deixar de ressaltar – de forma inevitavelmente clichê – o impacto dos dogmas religiosos na formação da moral humana. Mas pouparei meus esforços de prolongar esse discurso, pois o considero desnecessário e “redundante”.

Façamos agora a relação entre as informações anteriores e o foco inicial e principal deste texto. Promiscuo é tudo aquilo que sua moral o impede de fazer ou o faz sentir culpado por ter feito. É claro que nem sempre se sente culpa, assim como nem sempre a moral pela qual se julga determinada atitude como promiscua é a sua moral. Como a maioria de nós não costuma construir sua própria lógica de vida, os julgamentos são, em geral, feitos com base em conceitos pré-existentes, criados outrora em função da confortabilidade de quem os criou.

Entretanto, quando se trata de sexualidade, o único limite é a própria mente. Sentir prazer deve ser um ato livre, guiado apenas pelas mais profundas vontades e curiosidades. Além, é claro, de criatividade e ludicidade - saber brincar com os desejos.

É bom ressaltar que liberdade sexual não implica em descuido pessoal! Tendo isso em vista, talvez o único limite válido seja a falta de higiene. Nada contra sexo sujo ou quem pouco se importa em contrair DST’s, simplesmente prefiro não por em risco minha saúde e aconselharia qualquer um a não fazê-lo. Enxergo tais cuidados pessoais como forma de amor próprio.

É importante, também, perceber que deixar-se libertar de pudores significa qualquer coisa menos sair por ai dando aos quatro cantos sempre que surgir oportunidade e bater vontade. Pode não haver a promiscuidade, mas há a sociedade. O diferencial da humanidade é justamente a capacidade de se organizar em grupos a partir de leis que favoreçam de uma convivência mais harmoniosa. Sexo, apesar de ser um dos poucos impulsos intrínsecos, se inclui nesse contexto intelectual e, sendo assim, deve levar em consideração suas regras. Sem, no entanto, se deixar confundir leis e filosofia própria de vida com valorações arcaicas e repressoras da intimidade alheia produzidas por uma cultura antiga de moralismo exacerbado, infelizmente vigente até os dias atuais.

Não há pecados. Promiscuidade nunca existiu. O que existe, sim, é gente enrustida.

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