quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Pecado Não Existe - A verdade sobre o conceito de promiscuidade


Fernanda Fahel
Inspirada nas prostitutas de Jorge Amado - autor escolhido como tema interdisciplinar deste semestre na Unijorge -, decidi expor minha opinião e alguns fatos em torno de um termo muito utilizado em referência ao mundo das garotas de programa: Promiscuidade!

Assim como a maioria das significâncias relativas à moral do ser humano, o conceito de promiscuidade é, para mim, puramente cultural. Ideologias são construídas no intuito de organizar a própria mente, segundo aquilo que lhe parecer mais favorável a um estado próprio de conforto psíquico. Conforme a maneira como se foi criado e experiências pessoais, cada um de nós desenvolve zonas de satisfação mental diferentes. Aquilo que agrada a uns, não agrada a outros. No entanto, é evidente o quanto, ao longo da história do homem, houve manipulação em prol da satisfação daqueles que se fizeram sabidos e/ou egocêntricos o suficiente para induzir os demais a conforta-se por meio daquilo que garantiria o seu próprio conforto.

Numa verdadeira batalha de ideologias, aquelas que se fazem mais satisfatórias para uma quantidade maior de grupos populacionais se propagam por mais tempo e, conseqüentemente, se enraízam na cultura. Por quanto mais tempo e espaço uma ideologia se propagar, mais difícil tornara-se extingui-la por completo. Muitas vezes, aquilo que antes se delimitava a determinada ideologia passa a ser tomado como verdade universal mesmo fora do âmbito em que se fez verdade. Herdamos moldes comportamentais assim como herdamos características fenotípicas de nossos pais. Capacidade de criar teorias próprias e a ânsia por colocá-las em prática, infelizmente, se desenvolvem com a mesma (ou menos) freqüência que a expressão de genes recessivos.

Não poderia, nesse ponto do texto, deixar de ressaltar – de forma inevitavelmente clichê – o impacto dos dogmas religiosos na formação da moral humana. Mas pouparei meus esforços de prolongar esse discurso, pois o considero desnecessário e “redundante”.

Façamos agora a relação entre as informações anteriores e o foco inicial e principal deste texto. Promiscuo é tudo aquilo que sua moral o impede de fazer ou o faz sentir culpado por ter feito. É claro que nem sempre se sente culpa, assim como nem sempre a moral pela qual se julga determinada atitude como promiscua é a sua moral. Como a maioria de nós não costuma construir sua própria lógica de vida, os julgamentos são, em geral, feitos com base em conceitos pré-existentes, criados outrora em função da confortabilidade de quem os criou.

Entretanto, quando se trata de sexualidade, o único limite é a própria mente. Sentir prazer deve ser um ato livre, guiado apenas pelas mais profundas vontades e curiosidades. Além, é claro, de criatividade e ludicidade - saber brincar com os desejos.

É bom ressaltar que liberdade sexual não implica em descuido pessoal! Tendo isso em vista, talvez o único limite válido seja a falta de higiene. Nada contra sexo sujo ou quem pouco se importa em contrair DST’s, simplesmente prefiro não por em risco minha saúde e aconselharia qualquer um a não fazê-lo. Enxergo tais cuidados pessoais como forma de amor próprio.

É importante, também, perceber que deixar-se libertar de pudores significa qualquer coisa menos sair por ai dando aos quatro cantos sempre que surgir oportunidade e bater vontade. Pode não haver a promiscuidade, mas há a sociedade. O diferencial da humanidade é justamente a capacidade de se organizar em grupos a partir de leis que favoreçam de uma convivência mais harmoniosa. Sexo, apesar de ser um dos poucos impulsos intrínsecos, se inclui nesse contexto intelectual e, sendo assim, deve levar em consideração suas regras. Sem, no entanto, se deixar confundir leis e filosofia própria de vida com valorações arcaicas e repressoras da intimidade alheia produzidas por uma cultura antiga de moralismo exacerbado, infelizmente vigente até os dias atuais.

Não há pecados. Promiscuidade nunca existiu. O que existe, sim, é gente enrustida.

Prostituta transexual faz revelações íntimas sobre sua profissão

Fernanda Fahel
Aos 16 anos, Michelle Sampaio fez sua primeira cirurgia. A moça admite que, desde criança, nunca sentiu atração por homens. Após ganhar seios, ela fez uma lipoescultura para deixar o formato do corpo mais feminino e atraente. Michelle nasceu e morou em Recife (PE), onde fazia curso de direito e trabalhava como cabeleireira. Apesar da estabilidade financeira e perspectivas de mudar sua área de atuação, Michelle sentia-se esgotada pela correria da faculdade e a vida no salão. Por meio de algumas amigas, a moça acabou por conhecer o mundo da prostituição. Ao descobrir que podia lucrar muito mais com a nova profissão, Michelle largou o trabalho e os estudos para se tornar garota de programa em Salvador, onde hoje mora muito bem, no bairro da Pituba. Além de fazer hora na Orla e Manoel Dias, a prostituta é associada ao site Elite Girl, em que aparecem fotos sensuais da moça. Jovem, bonita, dona de um corpo escultural e muito feminina, Michelle não esconde o rosto. Apesar de ser transexual, seus traços são delicados e podem enganar muito fácil. O que mais entrega o gênero natural da moça é o timbre de sua voz que, apesar de suave e feminino, soa suspeito.
Leia Jorge: Como você se tornou prostituta?
Michelle: A partir do momento em que eu queria me manter sozinha, ser independente. Eu comecei, através de umas amigas minhas, a fazer programa. Ganhava dinheiro fácil, não tinha que dar duro. Trabalhei em salão e não agüentei. Com apenas um programa eu passei a ganhar varias vezes o dinheiro de uma escova. Trezentos, quatrocentos, quinhentos, dependendo do cliente.
Leia Jorge: Com que idade você se tornou transexual? Já fez cirurgias? Como você se comporta no dia-a-dia?
Michelle: Eu me descobri com 16 anos, mas, desde criança, nunca tive atração por mulher. Nunca, nunca, nunca. Eu vejo mulher como amiga. Com 16 anos, coloquei minha primeira prótese. Na época, era 10 mil reais. Me comporto normalmente no dia a dia, me visto super bem, discreta. Fiz, também, uma lipoescultura porque eu era barrigudinha.
Leia Jorge: Qual foi a reação da família quanto a profissão e a transexualidade?
Michelle: Minha família me discriminou muito. Só não minha mãe. Mas discriminaram pela profissão só. Eles não concordam com a prostituição. Mas hoje eles me adoram e aceitam.
Leia Jorge: Com quem você mora atualmente? É casada? Tem filhos?
Michelle: Eu moro sozinha aqui na Pituba mesmo, mas sou de Recife. Meus cachorros são meus filhos.
Leia Jorge: Os rapazes que chegam em você, geralmente percebem que você é transexual?
Michelle:Não. A maioria pensa que eu sou mulher. Mas muitos já sabem. Principalmente aqui na Bahia. Eles gostam de travesti mesmo. Aqui tem dia que não fica uma (prostituta) na rua.

Leia Jorge: Você não parece ser travesti...
Michelle: Eles gostam assim. Quanto mais feminina, quanto mais você parecer com mulher, mais eles gostam.
Leia Jorge: Você acha que o homem que procura uma travesti é um homossexual enrustido ou apenas um curioso?
Michelle: Para mim eles são héteros porque eles me vêem como mulher. Bonita, tenho seios, sou feminina, só não tenho o que eles querem. Aliás, eles não querem isso (o órgão genital feminino).
Leia Jorge: Você pensa em trocar de sexo?
Michelle: Não. Sabe o que um cliente me respondeu hoje? Que se ele quisesse mulher ele tava na casa dele. Ele veio procurar uma travesti.
Leia Jorge: Mas você sente vontade de fazer a cirurgia?
Michelle: Até agora, eu não tive necessidade de trocar de sexo.
Leia Jorge: Os clientes pedem para usar acessórios?
Michelle: Pedem muito! Além de lingeries, pedem vibradores. Mesmo a gente tendo (órgão genital masculino), eles querem maior ainda. De dezoito, de vinte, vinte e dois. Eles pedem. Mas só no site. (Elite Girl)
Leia Jorge: Muitos casais procuram garotas de programa?
Michelle: Sim. Já sai com vários casais e achei interessantíssimo.
Leia Jorge: Você conhece algum caso curioso que possa compartilhar?
Michelle: Eu tenho amigas travestis que são casadas com mulher normal. Existe também travesti com travesti. Duas travestis já me pediram em namoro. Você acredita? Que nada... Gosto de homem. Ta louca? Uma mulher pegando no meu peito? Ui... –arrepiou-se de aversão.
Leia Jorge: Você já passou por alguma situação muito desagradável? Como foi?
Michelle: Teve um cliente que teve relações comigo e depois falou que não tinha dinheiro para me pagar. Eu fiquei muito chateada, mas tratei ele “fina”. Falei que ele era um sujo e que nunca mais ele fizesse isso porque outras poderiam fazer muitas coisas erradas com ele. E sai do motel. Hoje em dia eu quero sempre meu dinheiro adiantado. Foi muito estressante.
Leia Jorge: Qual foi o pedido mais bizarro que já lhe fizeram?
Michelle: Fazer coco na cara dele (do cliente). Muito bizarro isso. Para mim isso foi alem do limite. Não fiz. Não tenho coragem.
Leia Jorge: Já aconteceu alguma situação maravilhosa durante o trabalho? Algo que você vá levar para o resto da vida.
Michelle: Muitas! O meu primeiro cliente, por exemplo, me deu dois mil reais para não fazer nada, só conversar. Para mim, aquilo ali foi maravilhoso. Fiquei louca. Só batemos papo e, no final, ele falou: “Eu tenho um presente para te dar” e puxou dois mil reais do bolso. Nunca vou esquecer esse cliente. Tem outro que deposita dinheiro todo mês na minha conta. Tem um que sempre me ajuda no aluguel. Toda vez que ele quiser (sexo), eu to disponível.
Leia Jorge: Existe envolvimento sentimental com cliente?
Michelle: Existe. Tem cliente que se apaixona. Rola muito isso.

Questionada se os clientes a reconheciam na rua, Michelle disse que sim e alegou ter participado de um filme pornô brasileiro muito conhecido. “Eu fui uma das transex no filme com Alexandre Frota, gravado no Rio de Janeiro. A experiência foi muito boa, mas o cachê nem tanto.” Infelizmente, não consegui encontrar nenhuma informação na internet que relacionasse Michelle Sampaio ao filme ou ao nome do ator. Mas, aqueles que se interessarem por conhecer e/ou contratar os serviços da garota de programa, podem dar uma olhadinha nas fotos da moça em seu perfil no site Elite Girl.
http://www.eliteclub.com.br/individual.asp?ID=78&ensaio=148

E, para provar travesti não é brincadeira mesmo, Michelle aproveitou o embalo do papo para pedir uma carona ate sua casa, que ficava ali perto. Aceitamos. Ela se despediu da colega de trabalho e foi conversando conosco ao longo do caminho. Encantados por sua beleza e simpatia, nos despedimos da transex, que voltou cedo para casa, 1h da matina, pois tinha compromisso às 10h do dia seguinte.

Prostitução foi profissão digna em civilizações antigas

Fernanda Fahel
A prostituição nem sempre foi tida como um trabalho sujo e indigno. Na verdade, sua representação social varia segundo época e cultura, nem sempre estando acompanhada da culpa religiosa ocidental. O ato sexual era visto de uma perspectiva bastante diferente nas sociedades em que ainda não existiam monogamia e propriedade privada. Em algumas civilizações, o sexo representava um ritual de passagem da infância à puberdade, praticado pelas meninas. Em outras, os homens iniciavam sexualmente as jovens em troca de presentes.
 
A percepção do sexo muda conforme a moral vigente. Hoje, no ocidente, a prostituta ocupa uma posição social tributária em relação à visão que temos da sexualidade. Na Antiguidade, no entanto, não havia a noção de pecado ligado ao sexo. Muitas vezes, formas de prostituição foram associadas a divindades.
 
Nas primeiras civilizações da Mesopotâmia e do Egito, por exemplo, as sacerdotisas prostitutas eram consideradas sagradas. Elas recebiam presentes em troca de favores sexuais. Na Grécia antiga, as hierodule eram, também, mulheres sagradas que ofereciam serviços sexuais em ocasiões especiais. Elas eram vistas como a encarnação de Afrodite e respeitadas pela população e pelos governantes por disseminarem o amor, o êxtase e a fertilidade.
 
Na antiga civilização grega, a prostituição era encarada como uma prática normal, um meio de obtenção de rendimento igual a qualquer outro. Controladas pelo estado, as prostitutas deviam pagar altos impostos e vestir-se de forma a serem identificadas como tal.

Assim como hoje, naquela época havia categorias de profissionais do sexo. Dentre elas, as hetairas tinham grande relevância social. Prostitutas conhecidas pela inteligência, conhecimentos administrativos e de política. Elas freqüentavam livremente o universo masculino e participavam das atividades reservadas aos homens. Formadas em escolas, as hetairae aprendiam a arte do amor, a literatura, a filosofia e a retórica, vindo a ser as mulheres mais instruídas da Grécia. Trabalhavam em bordeis do Estado e não sofriam qualquer tipo de represália.

Vale ressaltar que, nessa época, a prostituição era uma profissão tão rentável quanto qualquer outra. Algumas mães chegavam a incentivar suas filhas a fazer carreira.

Entretanto, após a Reforma religiosa no século XVI, o puritanismo tomou conta dos costumes, passando, assim, a ditar regras de moral. Moral esta, para a qual a prostituição era considerada uma grande afronta. Em ação conjunta, as igrejas católica e protestantes conseguiram jogar a prostituição na clandestinidade sem, contudo, ser eliminada: cortesãs continuariam a existir nas cortes européias e colônias.

Além disso, a Revolução Industrial também trouxe um elemento significativo à continuidade da prostituição, pois as mulheres tiveram de enfrentar condições desiguais no trabalho em relações aos homens. Prostituir-se em troca de favores e melhores condições de vida revelou-se uma opção.

Dona de Sex Shop fala sobre tabus e conta que cliente pediu "Boa Noite Cinderela" em sua loja

Fernanda Fahel
Muitos negam, mas sexo ainda é sim um grande tabu na sociedade. Mesmo cada vez menos escrupulosas, as pessoas ainda enfrentam a barreira inconsciente da culpa, enraizada na maioria das culturas após milhares de anos sob o domínio do poderoso desarme emocional que foram determinadas religiões. Ainda hoje, somos educados com base nos ideais dogmáticos disseminados no passado. Ideais repressores, principalmente da sexualidade como forma livre de prazer e expressão amorosa.


Um dos grandes tabus na sociedade é o Sex Shop, ou loja de acessórios sexuais. Por medo, vergonha, culpa ou ignorância, muitos ainda se recusam ou não se sentem a vontade para explorar o mundo dos “sex toys”.

Proprietária do Fetiche Sex Shop, em Salvador, Ilma Inomata Ferreira conta como foi abrir uma loja de brinquedos eróticos. A empresária fala, também, sobre seus clientes, produtos, pedidos estranhos na loja e sobre o mercado erótico em Salvador.
 

Pergunta: Conte um pouco sobre a historia da loja. Como surgiu a idéia de abrir um sex shop? Houve preconceito na família?
Resposta: Resolvemos abrir um Sex Shop porque à época existiam poucas lojas. Conseguimos enxergar uma boa lacuna no mercado de Salvador e queríamos explorar a atividade comercial com excelência. Com relação ao preconceito de na família, não houve, muito pelo contrário, o negócio é da família, de forma que grande parte dela está envolvida.
 
P: Sex shop ainda é um grande tabu na sociedade? Em sua opinião, o que mudou de uns tempos para cá?
R: Sim, ainda existe. Muito deste tabu vem da educação cristã que temos, onde não é permitido conhecer o corpo, de forma que as pessoas são criadas na mentalidade do pecado, que age como um chicote social. Estamos a caminho de superar essa fase de limitação, vemos que cada vez mais filmes tratam sobre o tema, músicas (não querendo entrar no mérito da qualidade musical), livros best-seller. A sociedade está finalmente entendendo que sexo não é algo a se envergonhar.
 
P: Qual o perfil dos clientes mais freqüentes? Como eles se comportam na hora de escolher e comprar um acessório?
R: A maioria dos clientes são casais em busca de novas experiências, de descobrir novos meios de se satisfazer sexualmente. O comportamento destes casais é normal, entram como se estivessem em outra loja qualquer, vêem a mercadoria à venda com naturalidade.
 
P: Quem são os clientes mais assanhados? Homens, mulheres, casais, solteiros, heteros, homossexuais, jovens, adultos ou idosos?
R: Jovens, definitivamente. Talvez pela descoberta, mas são sempre os jovens, sejam heterossexuais ou não.
 
P: E os mais retraídos, como fazem para vencer a vergonha? Você tem alguma técnica para deixá-los mais a vontade?
R: Ao chegar um cliente retraído nós procuramos conversar e mostrando os nossos produtos com a maior naturalidade possível, afinal, é apenas sexo. Além de expor nossa mercadoria, explicamos como cada item funciona, visto que nem todos são clientes assíduos de lojas desta natureza, e havendo qualquer dúvida, estamos sempre prontos para esclarecê-las.
 
P: Já recebeu algum cliente que era profissional do sexo? Como foi tê-lo em sua loja?
R: Sim, garotos de programa procurando por fantasias, no caso “uniforme de trabalho” (risos). Não vi problema em tê-lo na minha loja, profissão não define caráter.
 
P: Qual foi a situação mais constrangedora que você já presenciou na loja?
R: Um rapaz que perguntou se eu vendia “boa noite cinderela”, a droga que é utilizada para colocar nas bebidas e entorpecer as pessoas. Afirmei que não vendíamos drogas e ele se retirou.
 
P: Quais os acessórios mais procurados? E quais os mais peculiares? Você recomendaria algum?
R: Sempre pedem por próteses, de todos os tamanhos, formas e texturas, cosméticos, fantasias e produtos de sadomasoquismo. Estes são os carros-chefe da atividade.
 
P: Fale um pouco sobre o mercado de acessórios sexuais em Salvador. Como é hoje e quais suas perspectivas para o futuro.
R: O mercado de Salvador
 está bem servido de acessórios sexuais, de forma que as pessoas estão olhando nossa atividade com mais naturalidade, requisitando cada vez mais tipos e variedade de produtos. O futuro reserva aos nossos produtos maior alcance na sociedade, este ainda é restrito, afinal, todos fazemos sexo, mas quantas pessoas você conhece que já visitaram um Sex Shop?
 
 
 
O Fetiche Sex Shop fica localizado na Rua Silveira Martins, 27 – Cabula, Salvador - BA, 41150-000. Shopping Conexão Comercial, 1º andar.

Vida de Prostituta: Um Papo Íntimo com Carol, da Eros

Fernanda Fahel
Dez horas da noite de uma segunda-feira. Eu e um amigo fomos de carro até os arredores da orla e Manoel Dias a procura de prostitutas dispostas a bater um papo sincero e sem pudores. Após sondar as ruas, decidimos parar o carro em frente a Eros, um famoso night club em Salvador. O movimento parecia estar fraco na casa. Havia algumas garotas na porta, provavelmente, na esperança de atrair clientes. Abaixamos o vidro. “Alguma de vocês se importaria em dar uma entrevista? Sou estudante de jornalismo.” Imediatamente, uma delas se candidatou. Ela se aproximou do carro sem medo ou qualquer atitude ameaçadora, possibilidades que eu e meu acompanhante havíamos temido. No entanto, a moça debruçou-se na janela e pôs-se a falar abertamente sobre a vida pessoal e de prostituição, recusando apenas revelar sua graça.


Pergunta: Como você se tornou prostituta? 
Resposta: Foi por necessidade mesmo. Com 19 anos.


P: Qual foi a reação da família?
R: Eu sou afastada da minha família. Minha mãe sabe o que eu faço, mas não fala nada. Ela só faz querer dinheiro de mim. Não esta nem ai.
 
P: Com quem você mora atualmente? Eles respeitam sua profissão? Já houve desentendimentos em casa por causa disso?
R: Eu moro sozinha. Pago aluguel e tenho um filho de 5 anos.
 
P: Você tem outro emprego? Estuda?
R: Eu estudo sim. Estou fazendo supletivo ainda. E tenho planos para fazer faculdade de administração.
 
P: O que gosta de fazer nas horas livres?
R: Normalmente eu não tenho pique para fazer nada. Só estudar porque eu vou para o colégio. Às vezes eu fico com a galera de lá, converso normal. Mas eu não saio muito para festas.
 
P: Você costuma namorar?
R: Não. Porque não da para namorar trabalhando nisso. Já namorei, mas hoje é uma opção minha ficar solteira. Se uma pessoa gosta de outra, não tem como aceitar esse trabalho.
 
P: Você sente falta de ter um relacionamento amoroso?
R: Sinto sim. Todo mundo ai sente carência. Todo mundo ai (na prostituição) é muito carente e, por isso, às vezes, é explorado. Por isso que eu prefiro ficar afastada (de relacionamentos).
 
P: As pessoas com quem você convive sabem do seu trabalho como garota de programa? Como faz para preservar a identidade?
R: Não, eu escondo bastante. Eu falo que trabalho em outro canto, dou outro nome e presto atenção se vejo conhecidos (no trabalho). Não seria nada legal.
 
P: Voce utiliza alguma ferramenta na internet para atrair clientes?
R: Não uso isso porque me expõe muito. Eu fico só por aqui para tirar o dinheiro de pagar minhas contas e depois dou um tempo em casa.
 
P: Existe muita competição entre as profissionais do sexo? Você já brigou com alguma colega de trabalho? Sabe de algum caso?
R: Muita, muita! Nunca briguei com colega de trabalho. Sou da paz. Mas tem caso sim e as brigas não são bonitinhas, são feias. Às vezes você esta na mesa com um cliente e chega outra menina, fica dando em cima e ai começa a disputa. Uma chama a outra para o lado de fora (do night club), prende o cabelo, pega a faca e briga mesmo. Mas não rola muita briga assim não. O mundo da prostituição não é tão assim brabo como dizem no jornal. É brabo quando você se entrega a noite, quando você se envolve com drogas e pessoas que não prestam.
 
P: As meninas costumam carregar algum tipo de arma? Facas, navalhas?
R: Não aqui (na Eros) porque fazem revista na hora de entrar. Fora que não precisa de arma se tem garrafa e copo né? Do lado de fora (do night club) o clima pesa mais. Você se expõe. Quem vai mais para as ruas é quem se entregou a noite, viciada em droga, ai a boate não aceita.
 
P: Como é seu relacionamento com as prostitutas travestis?
R: Não entra travesti aqui dentro (da Eros). Eu fico dentro da boate. É bom porque a gente (que é associada ao night club) é mais conservada. Na rua tem travestis que querem bater mesmo e fazer acontecer.

P: O que os clientes mais procuram numa prostituta? Quais os pedidos mais freqüentes?
R: Você quer mesmo saber isso? (risos) Eles procuram atenção. Falar os problemas deles com as esposas. Muitos gostam de uma ‘dedadinha no ânus’ e a esposa não vai fazer isso. Gostam de ir para a cama com duas mulheres. Gostam de fazer a fantasia que eles não acham em casa.
 
P: Você tem problema em se envolver com uma colega de trabalho durante o programa?
R: A gente faz um teatro, na verdade. Quando as duas gostam (de ficar com mulheres) ai acontece. Algumas meninas aqui viram lésbicas, acho que por causa da carência, vê mulher nua a noite toda e começa a mudar o pensamento.
 
P: Qual foi o pedido mais bizarro que já lhe fizeram?
R: Um cara mandou eu enfiar meu salto na bunda dele. Muito sinistro. Bater nele, fazer xixi na cara dele. Eu faço, depende do dinheiro. Às vezes, eles querem só conversar também.
 
P: Você prefere servir de psicóloga para o cliente ou fazer sexo mesmo?
R: Até pensei em fazer faculdade de psicologia, eu gosto de ouvir problemas e dar conselhos, já estou acostumada.
 
P: Você já recusou fazer alguma coisa na hora do sexo? O que mais você não faria de jeito nenhum?
R: Já. Sexo anal. Detesto. Eu não sou viado para dar a bunda. Não faço nem pagando muito bem. Eu faria apenas por amor. Quando a gente gosta, a gente faz de tudo para agradar a pessoa amada. Não faria de jeito nenhum sexo sem camisinha. Nem transaria com dois homens ao mesmo tempo. Mulher ainda vai, mas viado não.
 
P: A gente sabe que ainda há muita discriminação com as profissionais do sexo. Algum passante ou cliente já te magoou?
R: Uma vez, um rapaz bebeu muito, não conseguiu ficar com o pênis ereto e queria que eu fizesse milagre. Ele chegou a me empurrar na cama. Eu rezei, pedi a deus e deu tudo certo. Mas tive que sair do motel correndo e sem roupa!
 
P: Você já sofreu agressão física apenas por ser prostituta?
R: Não. Eu já tentei fazer uma agressão física (risos). Porque ele não me pagou no final. Quando terminou o programa, o cara disse que não tinha dinheiro. Eu peguei uma garrafa e sai correndo atrás dele de tanta raiva que eu fiquei. Ele saiu correndo.
 
P: Alguma vez você gostou de fazer sexo com um cliente?
R: Já (expressão de satisfação ao lembrar). Teve sim, mas eu fiquei muito triste porque rolou uma química muito forte entre a gente. Fiquei triste por não ter conhecido ele fora dessa situação (sexo por dinheiro).
 
P: Você já se envolveu emocionalmente com algum cliente?
R: Não. Eu sou muito profissional. Mas conheço vários casos. Mulheres da noite são muito carentes. Elas se envolvem e acaba que depois não da certo.

(Conversa vai, conversa vem, ela volta atrás e assume já ter se apaixonado por uma cliente, com quem namorou sério!)

Eu já me apaixonei por uma cliente, com quem eu namorei por um ano e seis meses. Uma mulher. Foi a pior experiência da minha vida. Eu a conheci como cliente, depois ela começou a fazer programa também. Eu tinha ciúmes e a gente brigava o tempo todo. O pau comia!
 
P: Os clientes costumam te reconhecer na rua?
R: Não. Impressionante, mas não reconhecem. Ainda bem.
 
P: Você já foi pega no flagra com um homem casado?
R: Não. Mas já sai com um casal e, na hora, começaram umas cenas de ciúme, ai eu fui me saindo devagarzinho e fui embora.
 
P: Como é o mercado da prostituição em Salvador? A clientela é boa e fiel? Qual o período que mais rende para vocês?
R: Não tem muitos clientes. Tem muita mulher que vem de fora para trabalhar em Salvador, então a disputa é muito grande. O período que mais rende é o verão, antes do Carnaval. Antes dava muito gringo, agora não mais. Acho que por causa da crise que esta acontecendo lá fora.
 
P: Qual o seu perfil de cliente preferido?
R: Sempre gostei de sair mais com turista. Gosto de sair com homens mais velhos. Mas não tenho tipo físico, eu vou pelo dinheiro.
 
(Ao falar sobre estrangeiros, ela lembra de mais um episodio bizarro.)

Eu sai com um japonês, uma vez, que me pediu para fazer coco na boca dele. Pense ai, que nojo! Eu não fiz não. Xixi é so beber bastante água, fechar o olho e consegue. Mas coco não.
 
P: É verdade que japonês tem o órgão genital pequeno?
R: Sim, de pegar com o dedinho (fazendo movimento de punheta com o dedo indicador e o dedão). Mas normalmente quem vem sempre tem o pau pequeno e tem problema de ereção. Na certa se sente retraído por ter o pênis pequeno. Eu prefiro que seja médio para gozar logo e eu poder ir embora, do que eu ter que ficar lá tentando fazer milagre.

P: Como são os cuidados com a saúde na hora do trabalho?
R: Ir ao ginecologista. Fazer exame de HIV, sempre tem que fazer. Na hora de transar, você tem que olhar (o órgão genital) antes do contato físico. Qualquer coisa, eu boto até umas dez camisinhas por cima. Transar sem camisinha nunca. Pegar doença é fim de carreira na boate.
 
 
Hoje, aos 26 anos de idade, a entrevistada acredita que sua carreira como prostituta foi uma grande perda de tempo. Ela critica as colegas de trabalho iludidas pelo dinheiro fácil e alerta para o ambiente hostil que é o local onde trabalham. “Isso aqui é tudo uma ilusão. Tem meninas que não falam nada sobre estudo, nem trabalho. Acham que vão ficar novas a vida toda. E quem fica velha e chega aqui na porta (do night club), eles mandam embora. Gorda? Manda embora. Poucas gordas ficam. Se ficar velha e gorda, minha filha... Não passa da porta. É humilhada!”

“Eu tenho sete anos trabalhando na noite. Eu não tenho carro, eu não tenho casa. Eu desperdicei sete anos que eu poderia ter feito outros amigos porque aqui ninguém é amigo de ninguém. Tudo falso. Por isso que estou voltando a estudar. Ficar aqui sem ficar rica, sem poder comprar uma casa é perda de tempo, é me sujar a toa. Porque fazer sexo com quem você não gosta é terrível. Não da para juntar dinheiro aqui. Só o dinheiro certo para pagar as contas. Eu nunca consegui juntar nada e não tem uma ai que tenha conseguido. O máximo que conseguem é se casar com um cliente e eu não aceito isso. Se me conhecer aqui, nunca na galáxia que eu vou casar. Eu pago minhas contas e não aceito depender de ninguém”, declara a garota de programa.
 
Satisfeitos com a conversa, que durou em torno de apenas vinte minutos, mas que rendeu bastante, eu e meu acompanhante agradecemos pela disponibilidade e simpatia da moça. E tentamos, mais uma vez sem sucesso, descobrir seu nome. “Carol!”, disse ela ao se retirar com um sorrisinho sarcástico nos lábios.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A política em Candeias, na visão de quem perdeu a eleição



Liviane Carvalho

A política sempre traz fortes emoções, e não teria por que ser diferente na cidade de Candeias, a 46 quilômetros de Salvador. Como muitos, Robert da Cruz Costa, 40 anos, professor de educação física, iniciou seu interesse político quando ainda era rapaz, aos 16 anos, e participou diretamente das eleições 2012 de Candeias. Saiu candidato como vice-prefeito e sentiu de perto as emoções da derrota eleitoral. Neste papo rápido, revela, sem mágoas, sua percepção do cenário político da cidade depois da eleição.

Leia Jorge - Qual o seu partido político?

Robert Costa - Partido Progressista – PP

Leia Jorge - Por que escolheu este partido?

Robert Costa - Indicação de amigos, em busca de um novo projeto político pela cidade.

Leia Jorge- Quando recebeu o convite de se juntar ao partido, e logo após ser vice-prefeito?

Robert Costa- Ao partido, no mês de outubro de 2011, filiado ao PP desde esse mês. O convite para vice foi uma escolha do grupo PDT e PP, chamado como chapa limpa.

Leia Jorge- Você ganhou as eleições 2012?

Robert da Cruz Costa, ex-candidato a vice-prefeito de Candeias

Robert Costa- Não, a majoritária não. Mas o vereador do nosso grupo foi o mais voltado.

Leia Jorge- Descreva com uma palavra a sensação de derrota nesta eleição.

Robert Costa- Emoção.

Leia Jorge- Para você a eleição em Candeias foi justa e criteriosa?

Robert Costa- Foi.

Leia Jorge- Teve dificuldades como candidato a vice? Quais?

Robert Costa- Sim, mas facilmente superadas.

Leia Jorge- Acredita ter chance de se eleger nas próximas eleições?

Robert Costa- Depende da realidade política daqui a quatro anos.

Leia Jorge- Qual o seu sonho como político?

Robert Costa- Ver minha cidade – Candeias, meu estado e meu país com mais justiça social.

Leia Jorge- Dê uma nota de 0 a 10 para as eleições 2012 em Candeias.

Robert Costa- 6.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vitória, 8 anos: "ver gente morrendo me deixa triste"



Sirleia Araújo



Diante de um mundo cheio de controvérsias, violência e  morte,  ainda é possível  encontrar inocência e esperança através do olhar de uma criança. Um pequeno cidadão que carrega dentro de si sonhos de um mundo melhor, para algumas o sonho é uma casa, para outros que já têm casa, o sonho é o brinquedo da  vitrine, para aquelas que já possuem o brinquedo, o desejo é ser presidente da República, não importa o tamanho do sonho, o que importa é que todas conseguem viver como o mundo  deveria ser, com amizade, amor e comunhão. O que se passa na mente de uma criança? A estudante Vitória Araújo, de apenas 8 anos, é uma destas tantas meninas que têm sonhos, mesmo enfrentando um cotidiano violento.



Leia Jorge: Como se chama e quantos anos tem?


Vitória Araújo: Vitória Souza de Araújo, tenho 8.


Leia Jorge: Qual o seu brinquedo favorito?


Vitória: Minha boneca.


Leia Jorge: Por quê?


Vitória: Gosto de cuidar dela como se fosse minha filha


Leia Jorge: O que você faz nas horas vagas?


Vitória: Assisto tv


Leia Jorge: O que gosta de ver na TV?


Vitória: Carrosel é minha novela preferida


Leia Jorge: O que gosta de fazer na escola?


Vitória: Estudar e brincar com minhas amigas


Leia Jorge: Tem algum amigo em especial?


Vitória: Sim. Amanda. A gente sempre brinca  no recreio


Leia Jorge: Na sua escola todos se dão bem?


Vitória: Sim, às vezes alguns meninos me abusam mas eu não ligo, é só falar com a  pró.
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Leia Jorge: O que a professora faz que você mais gosta?


Vitória: Ela é boa comigo, tudo que eu pergunto ela responde com paciência e sempre tenta me ajudar.


Leia Jorge: Ela reclama quando seus colegas te abusam?


Vitória: Sim, ela diz a eles que devemos respeitar e amar uns aos outros como uma família.


Leia Jorge: Qual o seu maior sonho?


Vitória: Ter uma casa com um quarto só pra mim.


Leia Jorge: O que você quer ser quando crescer e por quê?


Vitória: Professora, para ensinar as crianças tudo que minha pró me ensina também.


Leia Jorge: O que acha do mundo em que você vive?


Vitória: Eu vejo muita gente morrendo na tv e isso me deixa triste. Não queria que fosse assim, mas minha mãe e minha professora dizem que as coisas podem melhorar se todos se unissem.


Leia Jorge: O que você acha que pode fazer para transformar o mundo em um lugar melhor?


Vitória: Tratar as pessoas bem e com amor, como a gente faz na escola.