segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O poeta Emílio Mascarenhas fala sobre o livro Contra-Resposta

Weslei Gomes



Emílio Mascarenhas tem 32 anos, nasceu na cidade de Feira de Santana, Bahia. É formado em Letras, é professor de redação, literatura e língua portuguesa, e é poeta. Influenciado pela poesia de Castro Alves, Leminski e Carlos Drummond de Andrade, Emílio segue os trilhos urbanos e rurais da prosa e da poesia. Junto com a poetisa Evelyn Castilho ele lançará um livro de poesia intitulado A Contra Resposta no final desse ano.
Leia Jorge: Quando e como você começou a se interessar por poesia?


Emílio Mascarenhas: Não sei o tempo ao certo em termos de idade, só lembro que eu era pequeno e antes de dormir a minha mãe lia histórias de Monteiro Lobato, contos tradicionais e algumas vezes um ou outro poema. Meu irmão sempre dormia na primeira frase que ela (que era poetiza amadora) lia enquanto eu fechava os olhos para imaginar todas as cenas que iam sendo narradas. Essa influência talvez tenha vindo dessa época. Em nossa casa havia dois livros, de dois grandes poetas, um de Castro Alves e o outro de Carlos Drummond de Andrade, e um poema marcou profundamente esse período, o poema intitulado "O Boi" de Drummond que mamãe lia na tentativa de que eu decorasse, mas até hoje não decorei, sou péssimo para decorar coisas.

Leia Jorge: Quais escritores você leu nesse período?

Emílio Mascarenhas: Eu lia de tudo quando criança gostava muito dos gibis do Maurício de Sousa, as HQs (histórias em quadrinhos) sempre estiveram presentes dentro de casa, todos nós fazíamos coleção. Eu colecionava as do Cascão, quando ainda eram publicadas pela editora Abril, meu irmão as da Mônica e do Zé Carioca, meu pai presenteava à nossa mãe com as revistas do Chico Bento (também do Maurício). Lembro-me que era uma festa quando ele nos chamava para ir à Baixa dos Sapateiros comprar revistas. Então poderia dizer que meu primeiro contato com leitura ou algum tipo de literatura foram com as revistas em quadrinho. Havia uma outra também que achava interessante, mas só lia quando visitava uma tia no interior, não sei quem escrevia mas era chamada "Revista do Nosso Amiguinho", nesse caso meu primo tinha a coleção. Curtia tanto ler quanto olhar as imagens ali presentes, acho que uma coisa sempre esteve ligada à outra (imagem e texto)...lembrei de um livro que era um paradidático que alguma professora havia passado para meu irmão mais velho... hum... "Tita a poeta", mas só lembro que a protagonista fazia rima com tudo e incomodava alguns adultos com isso.

Leia Jorge: Quando escreveu o seu primeiro poema?

Emílio Mascarenhas: Meu primeiro poema dizem que escrevi com 6-7 anos numa homenagem ao dia das mães, uma coisa totalmente simples e inocente...tipo: "Mamãe amo você do fundo do meu coração, amo muito até o chão"... nessa época eu não sabia o que era poesia, achava que poesia era apenas fazer com que as palavras rimassem...(risos) mas foi aos quinze que comecei a produzir textos para as peças da escola e a ensaiar produção de poesia.

Leia Jorge: Quais escritores influenciaram a sua poesia?


Emílio Mascarenhas: Além de escritores como Drummond e Castro Alves, o grande e admirável Fernando Pessoa, mas não posso deixar de citar Alves Redol, Sophia de Mello, Florbela Espanca e o fantástico Paulo Leminski.

Leia Jorge: Quando começou a notar que queria isso para sua vida?

Emílio Mascarenhas: Com 15  anos eu havia escrito um texto policial baseado em fatos reais e no mesmo ano escrevi uma peça de Halloween para uma encenação de Inglês, lembro que nessa época eu brincava dizendo que seria um escritor e criava frases, pensamentos... Mas perdi muita coisa, muitos textos e poemas, não tinha maturidade ainda, mas esse desejo cresceu quando ingressei no curso acadêmico de letras. No fundo no fundo gostaria de ter feito Jornalismo, mas como a concorrência na federal foi absurda tentei algo próximo da arte escrita. De 15 anos até 26 escrevia coisas sem compromisso... Eu gostava das aulas de literatura, gostava de recitar poesia dos grandes autores e gostava de brincar com as palavras e sentimentos e talvez por isso tenha registrado alguns textos. Perceber que eu queria publicar um livro ou fazer disso profissão veio mesmo no período de curso na faculdade, sentia-me inspirado, identifiquei-me com alguns autores e nesse período voltei a escrever, escrevi meu primeiro livro de Contos e meu segundo de poesias enquanto estudava.

Leia Jorge: Como é a vida de um poeta? É possível viver de poesia?

Emílio Mascarenhas: A vida de um poeta...difícil pergunta para se responder...acredito que todo artista tenha um olhar diferente sobre o mundo e o que está à sua volta e essa sensibilidade do olhar muitas vezes é dolorosa, pois o artista (seja ele poeta ou não), vê além, é como se fizesse uma leitura ou uma releitura, uma análise e essa reflexão durante o processo da construção da arte é profunda, ainda que simples em alguns aspectos.  Sobre viver de poesia...diria que é coisa difícil...escrevo desde os quinze e ainda não ganhei dinheiro algum com poesia...(risos) lembrei de uma encomenda certa vez, mas nem sei se recebi pela encomenda poética.

Leia Jorge: Você está pra lançar um livro, sobre o que ele trata?

Emílio Mascarenhas: Uma professora da faculdade certa vez disse: "Emílio, quero comprar um livro seu aqui em São Paulo, traduzindo você escreve bem." enquanto uma outra falou: "Emílio, você escreve bem, mas nossa cultura, nosso país não valoriza muito a poesia, então viver de poesia não acho que dá...todos os escritores na sua grande maioria trabalhavam com outras coisas enquanto escreviam..." (com exceção de Jorge Amado que vivia de escrever (se não me engano)... então entender isso foi complicado...mas entendi.

Leia Jorge: Quais são os seus sonhos?

Emílio Mascarenhas: Sim, é verdade, depois de ensaios, produções, composições e registros, resolvi organizar um projeto que a princípio (Janeiro de 2009) seria um romance, mas no desenvolvimento dele, a poesia era o tom mais forte, então resolvi adaptar. É um projeto ultrarromântico, mas bem atual, poesias que falam de sentimentos e do amor como uma resposta à dor em vários aspectos. Convidei uma amiga para entrar com uns textos dela junto aos meus e é o projeto que pretendo publicar ainda esse ano, mas não tenho editora ainda em vista. O nome é "A contra-resposta". Sonho um dia em ver uma obra minha em uma grande loja de livros (como a Saraiva), é mais gostoso de poder olhar e dizer, é meu, fui eu quem fiz, sabe depois de tantos anos ensaiando algo...é um sonho.

Leia Jorge: Quais livros do Jorge Amado você leu? E de que forma você percebe a influência dele em seu trabalho?

Emílio Mascarenhas: De Jorge eu li muito pouco, confesso, vim ter mais contato este último ano com o livro "Capitães de Areia" sugerido como paradidático em uma das escolas que ensino e "Mar Morto" que ganhei de um colega que estava se desfazendo do livro. Meu contato maior com a obra de Jorge foi através da novela e do filme "Tieta do Agreste” (que marcaram época) e do filme contando a história de Quincas...(risos). A influência de Jorge acredito que virá "a posteriori", pois foi ao visitar recentemente a uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia e após analisar a forma como foi organizada tal exposição (no meu museu preferido em Salvador) que meu interesse se despertou para Jorge. Andei pensando em realizar poesias temáticas (baseadas nas obras) já fiz isso com um livro de Camilo Castelo Branco, mas é um projeto que não saiu para o papel e acredito que a poesia tem que fluir de forma natural, tem que ter envolvimento profundo para não ser algo apenas por produzir, não gosto de produzir só visando fins comerciais ou lucrativos, vamos ver o que surge dessa análise pós-centenário.

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