Emílio
Mascarenhas tem 32 anos, nasceu na cidade de Feira de Santana, Bahia.
É formado em Letras, é professor de redação,
literatura e língua portuguesa, e é poeta. Influenciado pela poesia
de Castro Alves, Leminski e Carlos Drummond de Andrade, Emílio segue
os trilhos urbanos e rurais da prosa e da poesia. Junto com a poetisa
Evelyn Castilho ele lançará um livro de poesia intitulado A Contra
Resposta no final desse ano.
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Emílio
Mascarenhas: Não
sei o tempo ao certo em termos de idade, só lembro que eu era
pequeno e antes de dormir a minha mãe lia histórias de Monteiro
Lobato, contos tradicionais e algumas vezes um ou outro poema. Meu
irmão sempre dormia na primeira frase que ela (que era poetiza
amadora) lia enquanto eu fechava os olhos para imaginar todas as
cenas que iam sendo narradas. Essa influência talvez tenha vindo
dessa época. Em nossa casa havia dois livros, de dois grandes
poetas, um de Castro Alves e o outro de Carlos Drummond de Andrade, e
um poema marcou profundamente esse período, o poema intitulado "O
Boi" de Drummond que mamãe lia na tentativa de que eu
decorasse, mas até hoje não decorei, sou péssimo para decorar
coisas.
Leia
Jorge: Quais escritores você leu nesse período?
Emílio
Mascarenhas: Eu
lia de tudo quando criança gostava muito dos gibis do Maurício de
Sousa, as HQs (histórias em quadrinhos) sempre estiveram presentes dentro de casa, todos nós
fazíamos coleção. Eu colecionava as do Cascão, quando ainda eram
publicadas pela editora Abril, meu irmão as da Mônica e do Zé
Carioca, meu pai presenteava à nossa mãe com as revistas do Chico
Bento (também do Maurício). Lembro-me que era uma festa quando ele
nos chamava para ir à Baixa dos Sapateiros comprar revistas. Então
poderia dizer que meu primeiro contato com leitura ou algum tipo de
literatura foram com as revistas em quadrinho. Havia uma outra também
que achava interessante, mas só lia quando visitava uma tia no
interior, não sei quem escrevia mas era chamada "Revista do
Nosso Amiguinho", nesse caso meu primo tinha a coleção. Curtia
tanto ler quanto olhar as imagens ali presentes, acho que uma coisa
sempre esteve ligada à outra (imagem e texto)...lembrei de um livro
que era um paradidático que alguma professora havia passado para meu
irmão mais velho... hum... "Tita a poeta", mas só lembro
que a protagonista fazia rima com tudo e incomodava alguns adultos
com isso.
Leia
Jorge: Quando escreveu o seu primeiro poema?
Emílio
Mascarenhas: Meu
primeiro poema dizem que escrevi com 6-7 anos numa homenagem ao dia
das mães, uma coisa totalmente simples e inocente...tipo: "Mamãe
amo você do fundo do meu coração, amo muito até o chão"...
nessa época eu não sabia o que era poesia, achava que poesia era
apenas fazer com que as palavras rimassem...(risos) mas foi aos
quinze que comecei a produzir textos para as peças da escola e a
ensaiar produção de poesia.
Leia
Jorge: Quais escritores influenciaram a sua poesia?
Emílio Mascarenhas: Além
de escritores como Drummond e Castro Alves, o grande e admirável Fernando
Pessoa, mas não posso deixar de citar Alves Redol, Sophia de Mello, Florbela
Espanca e o fantástico Paulo Leminski.
Leia
Jorge: Quando começou a notar que queria isso para sua vida?
Emílio
Mascarenhas: Com
15 anos eu havia escrito um texto policial baseado em fatos
reais e no mesmo ano escrevi uma peça de Halloween para uma
encenação de Inglês, lembro que nessa época eu brincava dizendo
que seria um escritor e criava frases, pensamentos... Mas perdi muita
coisa, muitos textos e poemas, não tinha maturidade ainda, mas esse
desejo cresceu quando ingressei no curso acadêmico de letras. No
fundo no fundo gostaria de ter feito Jornalismo, mas como a
concorrência na federal foi absurda tentei algo próximo da arte
escrita. De 15 anos até 26 escrevia coisas sem compromisso... Eu
gostava das aulas de literatura, gostava de recitar poesia dos
grandes autores e gostava de brincar com as palavras e sentimentos e
talvez por isso tenha registrado alguns textos. Perceber que eu
queria publicar um livro ou fazer disso profissão veio mesmo no
período de curso na faculdade, sentia-me inspirado, identifiquei-me
com alguns autores e nesse período voltei a escrever, escrevi meu
primeiro livro de Contos e meu segundo de poesias enquanto estudava.
Leia
Jorge: Como é a vida de um poeta? É possível viver de poesia?
Emílio
Mascarenhas: A
vida de um poeta...difícil pergunta para se responder...acredito que
todo artista tenha um olhar diferente sobre o mundo e o que está à
sua volta e essa sensibilidade do olhar muitas vezes é dolorosa,
pois o artista (seja ele poeta ou não), vê além, é como se
fizesse uma leitura ou uma releitura, uma análise e essa reflexão
durante o processo da construção da arte é profunda, ainda que
simples em alguns aspectos. Sobre
viver de poesia...diria que é coisa difícil...escrevo desde os
quinze e ainda não ganhei dinheiro algum com poesia...(risos)
lembrei de uma encomenda certa vez, mas nem sei se recebi pela
encomenda poética.
Leia
Jorge: Você está pra lançar um livro, sobre o que ele trata?
Emílio
Mascarenhas: Uma
professora da faculdade certa vez disse: "Emílio, quero comprar
um livro seu aqui em São Paulo, traduzindo você escreve bem."
enquanto uma outra falou: "Emílio, você escreve bem, mas nossa
cultura, nosso país não valoriza muito a poesia, então viver de
poesia não acho que dá...todos os escritores na sua grande maioria
trabalhavam com outras coisas enquanto escreviam..." (com
exceção de Jorge Amado que vivia de escrever (se não me engano)...
então entender isso foi complicado...mas entendi.
Leia
Jorge: Quais são os seus sonhos?
Emílio
Mascarenhas: Sim,
é verdade, depois de ensaios, produções, composições e
registros, resolvi organizar um projeto que a princípio (Janeiro de
2009) seria um romance, mas no desenvolvimento dele, a poesia era o
tom mais forte, então resolvi adaptar. É um projeto
ultrarromântico, mas bem atual, poesias que falam de sentimentos e do
amor como uma resposta à dor em vários aspectos. Convidei uma amiga
para entrar com uns textos dela junto aos meus e é o projeto que
pretendo publicar ainda esse ano, mas não tenho editora ainda em
vista. O nome é "A contra-resposta". Sonho um dia em ver
uma obra minha em uma grande loja de livros (como a Saraiva), é mais
gostoso de poder olhar e dizer, é meu, fui eu quem fiz, sabe depois de
tantos anos ensaiando algo...é um sonho.
Leia
Jorge: Quais livros do Jorge Amado você leu? E de que forma você
percebe a influência dele em seu trabalho?
Emílio Mascarenhas: De Jorge eu li muito pouco, confesso, vim ter mais contato este último ano com o livro "Capitães de Areia" sugerido como paradidático em uma das escolas que ensino e "Mar Morto" que ganhei de um colega que estava se desfazendo do livro. Meu contato maior com a obra de Jorge foi através da novela e do filme "Tieta do Agreste” (que marcaram época) e do filme contando a história de Quincas...(risos). A influência de Jorge acredito que virá "a posteriori", pois foi ao visitar recentemente a uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia e após analisar a forma como foi organizada tal exposição (no meu museu preferido em Salvador) que meu interesse se despertou para Jorge. Andei pensando em realizar poesias temáticas (baseadas nas obras) já fiz isso com um livro de Camilo Castelo Branco, mas é um projeto que não saiu para o papel e acredito que a poesia tem que fluir de forma natural, tem que ter envolvimento profundo para não ser algo apenas por produzir, não gosto de produzir só visando fins comerciais ou lucrativos, vamos ver o que surge dessa análise pós-centenário.
Cabra...
ResponderExcluirLindo demais...
ResponderExcluirProfessor incrível
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