sábado, 1 de dezembro de 2012

Homofobia: “Não podemos pagar com nossas vidas o preço de nosso desejo”







Rangel Querino


Os crimes de natureza homofóbica crescem gradativamente no Brasil. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), apenas no primeiro semestre de 2012 cerca de 165 pessoas entre Lésbicas,  Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT), foram assassinados no País. Ainda de acordo com o GGB, a região nordeste é a mais perigosa e registra ¼ dos homicídios. O estado da Bahia lidera o ranking entre os crimes praticados por ódio aos homossexuais, em 2011, foram 28 mortes seguido de Pernambuco e São Paulo que registrou 25 e 24 respectivamente.

O Presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, conversou com a equipe do Leia Jorge sobre a impunidade que cerca muito destes casos, o papel do órgão diante estas questões e as conquistas que o público LGBT vem alçando.



Leia Jorge: Por que alguns crimes praticados contra os homossexuais ficam impunes?
                      
Marcelo Cerqueira: A homofobia da sociedade empurra a homossexualidade para a clandestinidade. Para um submundo paralelo, muitos LGBT para viver sua sexualidade são obrigados a se submeter a horários, tempos e oportunidades, especialmente a um mundo a margem, vitimas da violência e das doenças, por exemplo. Isso dificulta a ação da polícia em desvendar os casos, porque ninguém sabe ninguém viu.


Leia Jorge: Você acha que existe uma certa “preguiça” das autoridades para melhor serem avaliados esses casos?

Marcelo Cerqueira: Preguiça não, má vontade.  Isso vale para o Congresso que não aprova por conta do avanço das bancadas conservadoras, e tudo passa por opinião popular. Nesse caso os deputados se comprometem com suas bases e deixam essas demandas de lado. Por outro lado, existe a alienação dos LGBT que não elegem representantes e as coisas não andam. O Executivo fica também a margem da opinião da sociedade conservadora e as coisas param, a exemplo do Kit Gay, Dilma disse que costume deve ser debatido com a sociedade. Felizmente, o Judiciário que se considera o poço do conservadorismo, tem entendido o nosso clamor e aprovado o casamento.


Leia Jorge: O reconhecimento da União homoafetiva é uma grande conquista para o público Gay. Só que nem toda a sociedade está preparada para tais avanços. Você acredita que mudanças como está favorecem ao aumento do ódio á comunidade LGBT?

Marcelo Cerqueira: Sim, é uma conquista enorme. A sociedade tá preparada sim. Não existe isso. LGBT é igual a geladeira e TV em cada casa tem. O que falta agora é política de governo para dar proteção aos LGBT. O povo não se assume mais porque não tem garantia de que não será discriminado. É fato isso.  A moçada quer sair do armário, mas o governo não aprova o PL 122 que torna crime a homofobia, ai fica difícil.  Agora, aos trancos e barrancos estamos botando a cabeça na rua e os homofóbicos estão nos atacando de forma brutal. A sociedade tem de entender que defender LGBT é defender os direitos coletivos e difusos da sociedade.


Leia Jorge: Qual o papel do GGB em questões como essas?  

Marcelo Cerqueira: Cobrar ação enérgica da polícia e alertar aos gays que não levem desconhecidos para casa. Gay vivo dorme com o inimigo. A divulgação dos crimes na mídia é uma ação de advocacy (sic), que tem como foco o governo e os gays para que reajam diante desse genocídio. A cada dia um LGBT é assassinado no Brasil. Não podemos pagar com nossas vidas o preço de nosso desejo.


Leia Jorge: Você acredita que campanhas de conscientização da população fazem realmente algum efeito na sociedade em vista do preconceito homossexual?

Marcelo Cerqueira: Sim, lógico. É importante falar para o povão sobre estes assuntos. O povo não sabe nada sobre orientação sexual, e nem sexualidade no geral. Homossexualidade é um tabu enorme. Nenhuma mãe que mora na favela quer isso para o seu filho, elas tem medo que eles sofram, porque o Estado não ampara. Isso é trágico! E os governantes não fazem nada, diante disso.


Leia Jorge: Segundo dados do próprio GGB, a maioria dos assassinatos ligados á homofobia acontecem no estado da Bahia. Por qual motivo o estado lidera nesta prática?

Marcelo Cerqueira: Tradição patriarcal, escravista. Não se pede por favor. Usa-se do verbo na primeira pessoa: “faça!”, “me dê!”, “eu quero!” Acrescente ai, umas pitadas de pobreza, desemprego, prostituição eventual, machismo e outros mandonismos culturais do Nordeste. Paralelo a isso a bissexualidade. Os homens se relacionam com outros e rejeitam isso. Um horror! Mas, essa homofobia é fruto do entendimento que homossexuais são indivíduos de segunda categoria, e alguns não suportam ver LGBT bem de vida.



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