Rangel Querino
Os crimes de natureza homofóbica crescem
gradativamente no Brasil. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), apenas no
primeiro semestre de 2012 cerca de 165 pessoas entre Lésbicas, Gays, Bissexuais
e Transgêneros (LGBT), foram assassinados no País. Ainda de acordo com o GGB, a
região nordeste é a mais perigosa e registra ¼ dos homicídios. O estado da
Bahia lidera o ranking entre os crimes praticados por ódio aos homossexuais, em
2011, foram 28 mortes seguido de Pernambuco e São Paulo que registrou 25 e 24
respectivamente.
O Presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, conversou
com a equipe do Leia Jorge sobre a impunidade que cerca muito destes casos, o
papel do órgão diante estas questões e as conquistas que o público LGBT vem
alçando.
Leia
Jorge: Por que
alguns crimes praticados contra os homossexuais ficam impunes?
Marcelo
Cerqueira: A
homofobia da sociedade empurra a homossexualidade para a clandestinidade. Para
um submundo paralelo, muitos LGBT para viver sua sexualidade são obrigados a se
submeter a horários, tempos e oportunidades, especialmente a um mundo a margem,
vitimas da violência e das doenças, por exemplo. Isso dificulta a ação da polícia
em desvendar os casos, porque ninguém sabe ninguém viu.
Leia Jorge: Você acha que existe uma certa “preguiça” das
autoridades para melhor serem avaliados esses casos?
Marcelo Cerqueira: Preguiça não, má vontade. Isso
vale para o Congresso que não aprova por conta do avanço das bancadas
conservadoras, e tudo passa por opinião popular. Nesse caso os deputados se
comprometem com suas bases e deixam essas demandas de lado. Por outro lado,
existe a alienação dos LGBT que não elegem representantes e as coisas não
andam. O Executivo fica também a margem da opinião da sociedade conservadora e
as coisas param, a exemplo do Kit Gay, Dilma disse que costume deve ser debatido
com a sociedade. Felizmente, o Judiciário que se considera o poço do
conservadorismo, tem entendido o nosso clamor e aprovado o casamento.
Leia Jorge: O reconhecimento da União homoafetiva é uma grande
conquista para o público Gay. Só que nem toda a sociedade está preparada para
tais avanços. Você acredita que mudanças como está favorecem ao aumento do ódio
á comunidade LGBT?
Marcelo Cerqueira: Sim, é uma conquista enorme. A
sociedade tá preparada sim. Não existe isso. LGBT é igual a geladeira e TV em
cada casa tem. O que falta agora é política de governo para dar proteção aos
LGBT. O povo não se assume mais porque não tem garantia de que não será
discriminado. É fato isso. A moçada quer sair do armário, mas o
governo não aprova o PL 122 que torna crime a homofobia, ai fica difícil. Agora,
aos trancos e barrancos estamos botando a cabeça na rua e os homofóbicos estão
nos atacando de forma brutal. A sociedade tem de entender que defender LGBT é
defender os direitos coletivos e difusos da sociedade.
Leia Jorge: Qual o papel do GGB em questões como
essas?
Marcelo Cerqueira: Cobrar ação enérgica da polícia
e alertar aos gays que não levem desconhecidos para casa. Gay vivo dorme com o
inimigo. A divulgação dos crimes na mídia é uma ação de advocacy (sic), que tem como foco o governo e os gays para que
reajam diante desse genocídio. A cada dia um LGBT é assassinado no Brasil. Não
podemos pagar com nossas vidas o preço de nosso desejo.
Leia Jorge: Você acredita que campanhas de conscientização da
população fazem realmente algum efeito na sociedade em vista do preconceito
homossexual?
Marcelo Cerqueira: Sim, lógico. É importante falar
para o povão sobre estes assuntos. O povo não sabe nada sobre orientação sexual,
e nem sexualidade no geral. Homossexualidade é um tabu enorme. Nenhuma mãe que
mora na favela quer isso para o seu filho, elas tem medo que eles sofram, porque
o Estado não ampara. Isso é trágico! E os governantes não fazem nada, diante
disso.
Leia Jorge: Segundo dados do próprio GGB, a maioria dos
assassinatos ligados á homofobia acontecem no estado da Bahia. Por qual motivo
o estado lidera nesta prática?
Marcelo
Cerqueira: Tradição
patriarcal, escravista. Não se pede por favor. Usa-se do verbo na primeira
pessoa: “faça!”, “me dê!”, “eu quero!” Acrescente ai, umas pitadas de pobreza,
desemprego, prostituição eventual, machismo e outros mandonismos culturais do
Nordeste. Paralelo a isso a bissexualidade. Os homens se relacionam com outros
e rejeitam isso. Um horror! Mas, essa homofobia é fruto do entendimento que
homossexuais são indivíduos de segunda categoria, e alguns não suportam ver
LGBT bem de vida.
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