Marcos William
Várias pessoas questionam se
algumas personagens fictícias existem mesmo na realidade. Miss Pirandy, criação
do escritor baiano Jorge Amado dentro da obra “Gabriela, cravo e canela”, é uma
dessas personagens que faz o espectador pensar que o escritor pode ter abusado
demais da criatividade e esquecido da realidade. Isso porque se trata de um
homem com uma vida tida como incomum, um homem que mantém relações homossexuais
secretas com um coronel cuja identidade só é revelada no fim da trama. A equipe
de reportagem do Leia Jorge encarou o desafio e encontrou Leonardo S. que não
quis se identificar, mas que vive seus momentos sexuais em segredo, assim como
a personagem de Jorge. Leonardo, apelidado pelos amigos como Letícia, revela
manter relações amorosas com homens casados que, ainda assim, se definem como
heterossexuais.
Leia
Jorge: Você acha que a sua sexualidade define a maneira como você conduz suas
relações amorosas? Acha que todo gay é predestinado a uma vida secreta?
Leonardo: Claro que não, eu
acho que vivo essa vida porque quero. Eu poderia ter um marido ou
relacionamento mais sério, mas não mando no meu coração e só me apaixono por
caras casados com mulheres ou heterossexuais.
Leia Jorge:
Seria uma fantasia sexual?
Leonardo: Não. Se fosse eu
já tinha realizado, porque já ‘fiquei’ com muitos caras assim. Dessa forma, eu
já estaria satisfeito.
Leia Jorge:
A personagem Miss Pirandy se envolve com um coronel da trama Gabriela, mas, de
certa forma, faz por dinheiro. Como é sua relação com seus parceiros?
Leonardo: Prazer. Puro
Prazer!
Leia Jorge:
Você não os ama?
Leonardo: Chega um momento
na vida que você não acredita mais em amor.
Leia Jorge:
Falando em prazer, como acontecem as relações sexuais? Seus parceiros são
sempre ativos?
Leonardo: Não. Pra falar a
verdade, alguns deles são passivos, mas, normalmente, eles não gostam de beijar
na boca. Também Já conheci muito cara que diz que já está cansado de fazer
penetração com a mulher em casa. Às vezes, eles procuram coisa nova, entende?
Tem alguns que pedem para que eu convide um amigo..
Leia Jorge: E amigas?
Leonardo: Não, nunca me pediram para
chamar amigas. É como te disse, eles querem uma fruta nova. Um novo tempero.
Leia Jorge:
Você já recebeu dinheiro de algum deles?
Leonardo: Formalmente não,
porque não sou garoto de programa, mas algumas vezes eles me dão algum
dinheiro, ou roupa e eu encaro mais como um presente. Nunca li o livro
Gabriela, mas assisti a minissérie na televisão e, pelo que percebi, pareço com
o Miss Pirandy, porque acho que ele não recebe um valor combinado por ele e o
coronel, o coronel só lhe dá alguns presentes.
Leia Jorge:
Você trabalha?
Leonardo: Sim, por isso não
tenho necessidade de cobrar. Já te disse que faço o que faço por puro prazer.
Leia Jorge:
Não te incomoda o fato deles serem casados ou se declararem heterossexuais?
Você não se sente usado sexualmente?
Leonardo: Não. Usadas são as
mulheres com quem eles ‘ficam’. Comigo é só prazer. E também não me preocupo
com o que eles acham de si mesmos, se são heterossexuais ou não, eu quero me
satisfazer sexualmente, porque sou ser humano, e encontro essa satisfação com
esses homens. Também não me sinto usado se eu pensar que também ‘uso eles’.
Leia Jorge: Mas por que não se relacionar com caras que se identifiquem gays e que queiram um relacionamento duradouro?
Leonardo: Não sei, acho que
é coisa do destino. (risos)
Leia Jorge:
Você é feliz?
Leonardo. Sou, por que não
seria!?
Leia Jorge:
O tempo todo, as pessoas reclamam a falta de amor e se sentem carentes,
afetivamente falando. Você não se sente assim?
Leonardo: Não. Não sou
carente de amor, tenho família e amigos. As pessoas que querem viver suas vidas
como as outras e acham que só serão felizes e realizadas se tiverem um
casamento. Eu não penso assim, não mesmo.
Leia Jorge:
Como você se definiria?
Leonardo: Sou um homem
feliz! Livre! Faço o que bem entendo da minha vida. Transo com vários homens,
uso camisinha com todos, então, não tenho com o que me preocupar. Fora isso,
sou uma pessoa como outra qualquer, não quis revelar minha identidade porque
sei que as pessoas não entenderiam, sei que falariam “já não basta ser viado,
ainda tem que pegar um e outro”, porque eu sei que as pessoas pensam assim. Acho que posso sentir vontade de casar, a gente nunca
pode dizer nunca, mas, por enquanto, vou curtindo a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário