terça-feira, 16 de outubro de 2012

Capitães da Rainha


Laís Lopes



Eles não tinham nenhuma Dora em seu grupo, e não possuíam tanta artimanha como Pedro Bala e seus amigos, mas os Capitães da Estrada da Rainha – onde na verdade não passou nenhuma rainha e tem este nome apenas porque a rua foi aberta durante o reinado de Dona Maria I, “Maria, a louca” -, viveram uma infância tão feliz ou melhor que a dos meninos do romance de Jorge Amado. Em entrevista para o LEIA JORGE o industriário e morador da Estrada da Rainha (Beco do Cirilo) durante 34 anos, Luiz da Silva, falou sobre essa vivência.

“Cheguei ao Beco do Cirilo com 5 anos, vindo de Vitória da Conquista. Eu,  minha avó, tia, mãe e meus 3 irmãos fomos morar numa casa alugada. Eu e meus irmãos começamos a vender jornal para o sustento. Além disso, minha avó, mãe e tia lavavam roupa para suprir nossas necessidades”, afirmou
Durante a entrevista Luiz mostrou-se emocionado e evidenciava o fato de que a vida realmente não foi fácil naqueles tempos. “Eu comecei a vender jornal com 6 pra 7 anos de idade, no Santo Antônio além do Carmo, no antigo Maciel, e Barbalho. Ganhava uma quantia por semana que dava pra minha família. Entrava em bocas de fumo e muitas vezes os “donos do tráfico”  pediaa um jornal para ler e era como se fosse meu passaporte de segurança, ninguém mexia comigo. Eu nunca usei o dinheiro que ganhava nas vendas dos jornais pra mim, apenas contribuía com os custos familiares”, disse.
Sobre as brincadeiras e diversão da época, Lubinha, como é conhecido pelos amigos, fala com muita animação “Brincávamos de guerrô, fura pé, soldado- cabo e bola, que era o mais divertido. Ganhei muitos campeonatos com as partidas de futebol e sempre gostei muito de jogar. Eu era artilheiro, mas os estudos sempre estiveram primeiro lugar”, brincou.
Sobre a segurança do local que marcou sua infância, Luiz mostrou-se preocupado, “ Hoje a insegurança é muito grande. As crianças não brincam com tanta tranquilidade na rua. Antigamente não existia a violência que existe agora. A coisa era tão escondida que até quem usava drogas passava despercebido por nós; ou quando sabíamos não chegávamos perto da pessoa”, afirmou.

Foto: De arquivos antigos da comunidade


Luiz guarda muitas lembranças da Estrada da Rainha e contou para o nosso blog LEIAJORGE as mais marcantes:
“Lá existia Carnaval, os blocos passavam pela rua- Filhos de Gandhy, Bafo da Onça, Estudante, Vai Levando- e hoje não se tem isso. Lembro que de certa forma fomos nós (as crianças daquela época)  que construímos o campo de futebol, o local era uma horta e foi entulhado e assim se tornou o palco ou parque de diversões das nossas tardes”, completou.

“ Não éramos as crianças que tinham os melhores brinquedos, as melhores roupas, a melhor vida. Mas, fazíamos da nossa vida o melhor” [ Luiz da Silva, ex morador do Beco do Cirilo].

Um comentário:

  1. sou o sargento irmao desse capitao chamado Lubinha jamais perderemos anossa essencia.Um beijo neste gran coraçao.

    ResponderExcluir