terça-feira, 16 de outubro de 2012

Por entre as ruas do Pelô

Laís Oliveira

A insegurança no Pelourinho tende a cada vez mais assustar e afastar os moradores, comerciantes, baianos, e principalmente os turistas do local. Essa realidade é notada por conta dos grandes contrastes presentes entre os caminhos escuros e seguros, lugares desassistidos e pontos perigosos.
Baseado nesse contexto, o que predomina no local é uma sensação de insegurança ou violência real? Diante de diferentes opiniões, depoimentos e relatos, podemos afirmar que o Centro Histórico de Salvador não é mais o mesmo de alguns anos atrás.
O Pelourinho, que vai da Praça Municipal, onde está o Elevador Lacerda, até o Largo de São Francisco, disponibiliza de uma variada estrutura de serviços, desde agências de turismo, bancos, bibliotecas, consulados, estacionamentos, Balcão de Justiça e Cidadania (Bjc) e o Serviço de Atendimento ao Turista (Sat), postos de saúde, até os responsáveis pela segurança, como o 18º Batalhão de Polícia Militar (18º BPM), a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur).
“O Centro Histórico é monitorado 24h por câmeras, com policiais militares em pontos estratégicos, além de reforço militar pelo Curso de Habilitação de Sargentos (CHS). Logo, não há pontos perigosos, e sim alguns lugares desassistidos, por conta do comércio fechado e da ausência de pessoas”, relata o soldado Silas de Oliveira, do 18º BPM.


Sua posição é apoiada por Júlia Souza, baiana da ladeira do Pelourinho, que em 23 anos de trabalho nunca foi assaltada. “A polícia fica 24h fazendo a segurança daqui e qualquer coisa que acontece vem duas, três viaturas”.
Já para Danielly Sanches, gerente da loja a mais bela do Pelô, os lugares mais perigosos do Pelourinho são a Rocinha, na Rua Alfredo de Brito, a Rua 28 de setembro e a Gravatá, as quais há aproximadamente um ano os policiais fazem a segurança, mas ainda assim considera perigoso.
 “O esquema da polícia militar é fraco na região dos moradores, de vez em quando que passa uma viatura. Ficamos amedrontados principalmente quando anoitece, pois esse é a hora que os motoqueiros mais assaltam”, relata Jackson, morador da Rua Santo Antônio há 50 anos.

Aprendendo a viver com a (in)segurança

Segundo alguns moradores e comerciantes, os assaltantes agem mais na troca de turno da polícia militar e a noite, mas outros afirmam que não existe mais horário e nem dia para ser mais uma vítima, basta dar um ‘vacilo’. 
De acordo com Vilobaldo Filho, morador do Santo Antônio há 20 anos, o pessoal da ‘ribanceira’ são os que mais roubam, desde futilidades, como bateria, pneu de socorro, tampa de som, chave de roda e macaco, até o próprio carro. “Já tive minha casa e meu carro roubado, também já fui assaltado na porta da minha casa”, relata.
“A polícia militar deixa a desejar na troca de turno, no momento em que um policial sai e outro entra, é que os pivetes agem”, explica Danielly. Ainda segundo a comerciante, “os turistas ‘dão mole’ deixando de bobeira a máquina, o tablet, usam correntes de ouro, e por isso acabam sendo alvo dos ‘pivetes”.





Já para a baiana Júlia, se tanto os baianos como os turistas passarem de noite por lugares pouco movimentados, em ruas transversais e sem movimento, serão alvos dos moleques.
De acordo com Hemetério Garrido, morador do Santo Antônio há 37 anos, “os ‘gringos’ (turistas) são os mais roubados nessa região, a exemplo de um europeu que estava produzindo um documentário sobre o Pelourinho para divulgar na Alemanha e teve todo seu material roubado”.
Já Maria de Fátima, moradora da Rua Santo Antônio há 32 anos, diz que a violência não é mais restrita a um bairro, “hoje em dia, corremos perigo em todos os lugares da cidade e não existe mais um público preferido”.
O Pelourinho virou terra de índio
Perigo, medo e insegurança por trás de uma rica arquitetura barroca, cultura e calorosa recepção. Esse é o contraste que faz o Centro Histórico de Salvador ‘virar terra de índio’.
“O Pelô nunca mais será o mesmo, ele está largado às baratas, é tanto lixo, fedor, insegurança, que faz com que os próprios baianos não gostem de andar aqui, infelizmente nós só ganhamos dinheiro com os turistas”, pontua Danielly.
De acordo com o soldado Silas, “não existe índice de homicídios no Pelourinho, ao contrário de outros pontos de Salvador, o que existe são moleques viciados que furtam algum objeto de valor para comprar drogas”.
 “Quem é de Salvador não entra em vias escuras e sem policiamento, já os turistas ao entrarem em uma dessas vias, podem ser vítimas de oportunistas, por isso não devem andar com objetos valiosos, a exemplo de correntes de ouro, celulares, máquinas, e também devem evitar levar todos os documentos no bolso”, completa o soldado.
Jackson salienta: “Já fui assaltado na porta do bar, às 16 horas, eles estavam com revólveres na mão, roubaram celulares e dinheiro de todos os presentes e em seguida saíram ‘de boa’ e entraram no carro”.
Segundo a moradora Maria, as pessoas deixam de frequentar o bairro à noite por conta do perigo, “eu perdi o meu pai em um assalto aqui”.

A cracolândia no Pelourinho
Segundo estudos, o crack, que surgiu nos guetos, leva 10 segundos fazer efeito e ainda é sete vezes mais forte que a cocaína, além de levar os seus usuários ao vício e à morte rápida. Posso dizer assim, que os meninos de rua, das obras de Jorge Amado, ‘trocaram’ a capoeira pelo crack.
Os relatos de alguns moradores e comerciantes do local confirmam que a violência está diretamente ligada ao tráfico de drogas, principalmente ao uso do crack.
“Todos os dias eles usam drogas, e a onda agora é cheirar crack,”, pontua Danielly. Sua posição é apoiada pelo morador Jackson, que afirma que deveriam ter policiais à paisana na boca de fumo.
“A Ladeira do Pilar, mais conhecida como ‘Rala Bunda’, é o ponto de tráfico de drogas da região e daqui a pouco tempo será considerada a nova cracolândia”, relata o morador Vilobaldo.
De acordo com Hemetério, o Governo do Estadual está doando 107 casas para os moradores da Ladeira do Pilar, “mas muitos dos que tiveram esse benefício já venderam a casa ou são traficantes, essa obra não vai recuperar ninguém”.
Assim, entre suposições, inquietações, medos e angústias, eis a grande e polêmica questão; Afinal, o Pelourinho é ou não perigoso?

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