A relação entre as canções
de Dorival Caymmi e algumas passagens de um romance de Jorge Amado
As obras de Jorge Amado são
marcadas pela exaltação que o autor faz à Bahia e ao jeito baiano de ser. Quem
não conhece a Bahia, consegue ter uma noção de cada lugar e de cada
paisagem do livro por causa da preocupação de Jorge em descrever minuciosamente
o ambiente. Quem é baiano e
conhece bem os lugares mencionados pelo autor, consegue se projetar para o
local e imaginar, como o diretor de um filme, cada cena.
Em alguns livros, além da
projeção para o local onde as cenas se passam, também é possível ouvir a trilha
sonora. E quem bem soube cantar as obras de Jorge foi Dorival Caymmi. No livro
“Mar Morto”, por exemplo, muitas passagens fazem referência direta à canção “É
Doce Morrer no Mar”. Nesta canção os versos “A
noite que ele não veio foi de tristeza para mim. Saveiro voltou sozinho... Triste
noite foi para mim”, “Saveiro partiu de noite e foi... Madrugada não voltou... O marinheiro bonito a sereia do
mar levou” e “Nas ondas verdes do mar, meu bem, ele se foi afogar. Fez sua cama de
novo no colo de Iemanjá” descrevem
bem o pensamento das mulheres dos pescadores ao constatarem que seus maridos
morreram no mar.
“Eu li Mar Morto muito
pequena ainda. Muitos anos depois eu li novamente e descobri a relação das
músicas dele (Dorival Caymmi) com a história do livro. É fantástico! Para cada
passagem do livro há uma canção que se encaixa perfeitamente bem. Eles eram
amigos e é como se eles estivessem se juntado para escrever Mar Morto, assim
como também para poder compor ‘O Bem do Mar’, ‘Canção da Partida’ e tantas
outras que tem essa mesma temática dos pescadores, da vida no mar...”. A constatação é da cantora, compositora e neta de Dorival Caymmi, Alice Caymmi.
Ao ouvir Canção da Partida,
o pescador Lúcio Simões e sua mulher Joana Simões afirmam que Dorival Caymmi conhece bem a rotina de quem vive da pesca, como se ele tivesse sido mesmo um deles. Os versos “Se Deus
quiser, quando eu voltar do mar um peixe
bom eu vou trazer/ Meus companheiros
também vão voltar e a Deus do céu vamos
agradecer”, fazem uma bela descrição do sentimento de cada pescador ao
pensar no desembarque na praia, quando os trabalhos no mar chegam ao fim.
Talvez a amizade entre Amado
e Caymmi tenha influenciado na ligação tão forte do livro com as canções, mas o
que realmente interessa é que certas passagens de Mar Morto fazem de
maneira bem sutil um convite para que o leitor ouça as canções. Após a leitura
da obra, as canções também podem funcionar como uma forma de cantarolar a
história do amor de Guma por Lívia, o bem da terra, e Iemanjá, o bem do mar.
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