segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Comidas de santos na Bahia

O universo do candomblé e as chamadas comidas rituais

Laura Carvalho

A Bahia, na sua riqueza cultural que engloba o sincretismo religioso, mostra que a comida é também uma tradição que foi trazida do continente africano pelos escravos e que foi mantida no culto do Candomblé. As comidas que são oferecidas aos orixás são as chamadas  “comidas rituais”, as quais cada um deles tem a sua específica.
O ritual para fazer a comida de orixá é complexo e elaborado, seguindo os códigos e princípios do Candomblé. Segundo Lúcia Santos, praticante do candomblé, “a comida é oferecida aos Orixás acompanhada de rezas e cantigas, e em grande parte são distribuídas para todos os presentes.”
“As comidas oferecidas aos orixás são também chamadas comida de axé, pois acredita-se que o Orixá aceitou a oferenda e a impregnou de axé”, afirma Lúcia. Em entrevista, ela tira algumas dúvidas que temos sobre as comidas de santos:


Leia Jorge: Qual a finalidade da oferenda?

Lúcia Santos: A oferenda mantém o equilíbrio das relações entre os homens e os orixás.

Leia Jorge: Como acontece esse ritual da oferenda de comida ao orixá?

Lúcia: Fazemos as oferendas com rezas e cantigas. Tudo faz parte de um ritual, onde o orixá se alimenta da energia e da vibração da comida que nós oferendamos a ele. 

Leia Jorge: O que deve ser oferecido à Iemanjá?

Lúcia: Iemanjá prefere peixe de água salgada, regados ao azeite e assados, milho branco cozido e temperado com camarões, cebola e azeite doce, manjar com leite de coco e acaçá.

Leia Jorge: Sabe-se que o acarajé, iguaria conhecida por todos, é uma comida tipicamente do candomblé. Para que orixá é oferecido o acarajé?

Lúcia: O acarajé é a comida ritual do Orixá Iansã.

Leia Jorge: Quais são os ingredientes predominantes nas comidas oferecidas aos orixás?

Lúcia: Pode-se dizer que o camarão seco, a cebola e o azeite de dendê. O feijão fradinho, o quiabo, o inhame e o milho branco são os ingredientes-base de pratos como o omolocum, o caruru, o acará, o ipeté e o acaçá.

Leia Jorge: Existe alguma regra ao fazer a comida para os orixás?

Lúcia: Sabemos que não se deve dar as costas para o fogo, não se joga sal no chão, não se mexe em comida de orixá com colher que não seja de pau e que a comida de orixá mexida por duas ou mais pessoas desanda.

Leia Jorge: O que são as chamadas “comidas secas”?

Lúcia: As comidas secas, ou comidas frias, são todas que não são provindas de sacrifício do animal, ou as que são à base de grãos, raízes, folhas e frutas.

Leia Jorge: Qual o real significado da comida para o candomblé?

Lúcia: A comida tem uma dimensão valorativa, sendo estendido o alimento do corpo e também do espírito. Comer é estabelecer vínculos e processo de comunicação entre os homens, deuses, antepassados e a natureza.

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