domingo, 25 de novembro de 2012

Zequinha do Beco


Laís Lopes

Ser pitoresco! Ser interessante, inusitado, diferente, curioso! É comum qualquer pessoa ter um amigo, familiar ou alguém que possui alguma dessas características quando não todas elas, o que faz esta pessoa chamar atenção, causar burburinho. E assim como o ‘Professor’ de Capitães da Areia, que era intelectual, contava histórias e se fazia diferente dos demais... No Beco do Cirilo também foi possível encontrar alguém assim.


Por isso, o Leia Jorge entrevistou Ubiraci Aragão, filho de José Caldeira de Almeida... Mais conhecido como ‘Seu Zequinha’ e descobriu muitas curiosidades sobre essa personalidade que deixou muita alegria na comunidade.

Leia Jorge: Como era a relação do seu pai com o pessoal do bairro?

Ubiraci Aragão: A relação dele com o pessoal de onde morávamos era a melhor possível, sempre brincalhão, adorava um jogo de dominó e ria muito com os amigos. Aos domingos assistia aos jogos de futebol, tradicionais na comunidade, e depois vínhamos para casa. O problema dele sempre foi a bebida... O meu pai era alcoólatra , mas era uma pessoa boa. Nunca presenciei ele discutindo com ninguém, ele era mesmo de fazer brincadeiras.

Leia Jorge: Onde ele trabalhava?

Ubiraci Aragão: O meu pai criou a mim e os meus 9 irmãos lá no Beco do Cirilo através de muita labuta na feira de São Joaquim, onde ele trabalhava tirando cargas.Na época não se tinha veículos para se fazer transporte tudo era feito no lombo de algum animal, por isso o meu pai trazia tudo em um burro, que ele chamava de Russo!

Leia Jorge: Russo? Então o burro era de estimação?

Ubiraci Aragão: “Sim ele ficava perto de onde hoje é o campo de futebol e antes era uma horta. Tinha um campinzal, era a casa do Russo. O engraçado mesmo era quando o meu pai voltava da feira depois de tomar umas duas...


Leia Jorge: O que acontecia?

Ubiraci Aragão: Não era meu pai que trazia o burro pra casa e sim o inverso! Depois da bebedeira ele subia no lombo do burro e assim vinha pra casa. Russo parecia um animal adestrado. (risos) Mas, na realidade era mesmo coisa de costume, de convívio. Situação muito engraçada porque  diziam que quando a sinaleira ali nas imediações da Soledade fechava ele parava e quando  abria ele seguia caminho  e depois trazia o meu pai pra nossa casa.É como se soubesse o caminho. O RUSSO era genial! 

Leia Jorge: Quando o seu pai faleceu e como foi isso?

Ubiraci Aragão: Quando o meu pai faleceu com 79 anos eu já era adulto. Ela morreu de uma doença chamada fecaloma. Antes ele fez uma anputação na perna devido a uma grenguena. A morte dele foi difícil para toda nossa família. Ele como patriarca era muito importante pra nós.

Leia Jorge: Qual é a melhor lembrança que você tem do Seu Zequinha?

Ubiraci Aragão: É o fato dele gostar mesmo da família. Morávamos numa casa de quarto, sala, cozinha e um banheiro recuado. Mas, apesar de todas as dificuldades ele nunca deixou faltar comida na mesa. Pra ele pode ter 300 pessoas, 400 ... Ele não reclamava. A única coisa que ele reclamava é se o café não estivesse quente! (risos). A perda pra gente foi muito dolorosa. Mas, guardo as melhores lembranças do meu pai.

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