Letícia Rocha
Internações foram absorvidas pelo
Couto Maia, mas medida pode comprometer tratamento de portadores da Hanseníase
Um
marco na região e referência no tratamento da hanseníase, o Hospital
Especializado Dom Rodrigo de Menezes (HEDRM), em Águas Claras, teve seu setor
de internamento desativado recentemente. O setor foi transferido para o
Hospital Couto Maia, em
Monte Serrat , ficando no local apenas o atendimento
ambulatorial dos pacientes.
A mudança descentralizou o atendimento voltado para o tratamento dos portadores da doença que fazia da unidade de saúde uma referência em todo o Estado. A medida seria o início da concretização do Instituto Couto Maia, uma união dos dois hospitais, a ser instalado onde atualmente funciona o Dom Rodrigo.
A mudança descentralizou o atendimento voltado para o tratamento dos portadores da doença que fazia da unidade de saúde uma referência em todo o Estado. A medida seria o início da concretização do Instituto Couto Maia, uma união dos dois hospitais, a ser instalado onde atualmente funciona o Dom Rodrigo.
De
acordo com o médico e vereador Jorge Jambeiro, especialista na doença e que
atuou por mais de 20 anos no HEDRM convivendo de perto com os internos e com a
luta dos portadores da hanseníase, a medida compromete o tratamento de
referência. “O Estado está perdendo leitos e
caminhando para trás. Os pacientes internados precisam de tratamento
especializado, com médicos capacitados. Um infectologista, por exemplo, não é a
mesma coisa de um “hansenólogo”. Essa desativação é um retrocesso”, critica. O ortopedista é
pioneiro na Bahia na realização da cirurgia reabilitadora das sequelas da hanseníase, a neurólise ulnar.
Jambeiro
comenta ainda que 25% a 40% dos pacientes atendidos em Salvador já chegam ao
hospital com quadros muito avançados da doença. “Isto ocorre porque os sintomas
iniciais são facilmente confundidos com doenças de pele e acabam sendo tratadas
de forma errônea. Os pacientes são tratados ambulatoriamente, mas aqueles que
necessitam de procedimentos cirúrgicos para reparação das sequelas precisam de
internamento para recuperação, e sua referência era o Dom Rodrigo”.
A
opinião é compartilhada por Simone Barros, gerente do posto de saúde de Boca da
Mata e segunda secretária do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas
pela Hanseníase (Morhan), núcleo Salvador/Bahia,. “O Dom Rodrigo é uma
referência antiga no tratamento da doença. Tanto os pacientes daqui, como os
que vêm do interior já têm uma história naquele lugar. Pros pacientes e pra
Cajazeiras em si é uma perda muito grande. A vinda do Couto Maia pro bairro é
bom para Cajazeiras, mas é importante não perder as referências do Dom Rodrigo,
do lugar. Para ter um, não se precisa perder o outro”, opina ela.
A assessoria de imprensa da Secretaria de
Saúde do Estado da Bahia (SESAB) rebateu as críticas afirmando que o tratamento
da hanseníase é prioritariamente ambulatorial e as necessidades de internação
são muito raras. “Devido
a este número pequeno de internações e avaliando o custo-benefício de manter
uma estrutura hospitalar para pouquíssimos pacientes, a Sesab definiu que estas
internações seriam absorvidas pelo Hospital Couto Maia, após uma avaliação
criteriosa por parte das duas unidades. O Couto Maia dispõe de uma equipe
especializada, inclusive para tratar a hanseníase, pois a maior parte dos
médicos são infectologistas, mas recebeu ainda reforço da equipe de
profissionais que atuava na internação do D. Rodrigo”, diz a assessoria, em nota
enviada por e-mail.
De
acordo com o coordenador do Morhan/núcleo Salvador/Bahia, Názaro de Jesus
Costa, a medida será positiva desde que se faça o que foi proposto em maio, na
reunião com o coordenador nacional do Morhan e a equipe do Estado para tratar
do assunto e da implantação do Instituto Couto Maia. Até meados de novembro, a entidade estava montando uma equipe para visitar os pacientes
transferidos. “O mais importante é observar se estão felizes, as condições
deles lá, observar se estão tendo alguma rejeição. Aqui eles tinham liberdade,
lá não sabemos, e cabe ao Morhan daqui fiscalizar, ver como estão sendo
tratados”, pontua.
O que é hanseníase
A doença é causada pela contaminação do bacilo
de Hansen (Mycobacterium Leprae). Entre os sintomas mais conhecidos estão
aparecimento de manchas brancas ou avermelhadas com dormência no local,
insensibilidade térmica ou ao toque e dor nos nervos que, com o agravamento,
pode impedir o movimento dos membros atingidos. Uma das dificuldades que o médico e vereador Jambeiro
aponta para a eliminação da doença é o tempo da descoberta do
diagnóstico, pois os seus sintomas são facilmente confundidos com doenças de
pele, e também. Outro problema: não se tem ainda uma vacina para a sua prevenção. “É importante
lembrar que os portadores da doença, em geral, são estigmatizados pela
sociedade, embora a transmissão da doença só ocorra através de contato íntimo e
prolongado. A doença tem cura e o tratamento é feito gratuitamente”, explica o
médico.
Área de Proteção:
Sobre o Instituto ser erguido na área onde
funciona o Dom Rodrigo, ainda há um alerta. Uma emenda aprovada e incluída no
PDDU, por proposição do vereador Jambeiro, considerou a região do Dom Rodrigo
uma Área de Proteção de Recursos Naturais (APRN), reduzindo as possibilidades
de construção na área. A única chance de construção determinada é de um
Núcleo de Educação Ambiental.
A
assessoria da Secretaria de Saúde está ciente da situação e, segundo
justificou, a ideia é construir o instituto na área onde já existe uma
edificação. Mas o projeto foi submetido ao IMA e à Sucom e aguarda
posicionamento destes órgãos.
Números da Hanseníase:
*
A Bahia está entre as dez áreas de maior risco de detecção da Hanseníase no
Brasil e apresenta um grau de endemicidade considerado alto;
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Em Salvador, alguns bairros e comunidades como São Cristóvão, Pernambués e
Subúrbio Ferroviário apresentam grandes bolsões de infecção do bacilo causador
da doença;
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São detectados 7 novos casos por dia no Dom Rodrigo;
*
O Brasil precisa cumprir o acordo feito com a Organização Mundial da Saúde, de
eliminar a doença;
*
Em 2011, dados do Ministério da Saúde registram 2.800 novos casos no Estado;
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Na Bahia, as áreas de grande prevalência estão nos municípios de Seabra, Chapada Diamantina, e
Juazeiro, no Norte do Estado.
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